“A gente não precisou divulgar nossa chegada ao Brasil, pois não precisávamos de mais clientes. A demanda cresceu 20 vezes em uma semana”, afirma em entrevista ao Estadão Felix Lulion, diretor de expansão da Cornershop. O crescimento no número de pedidos foi acompanhado por um ritmo alto de contratações: em março, a empresa tinha 20 pessoas. Hoje, tem 300, em áreas como operações, comercial e marketing – já o time de tecnologia fica todo no Chile. Segundo Lulion, todos os funcionários foram contratados à distância.
Parte do silêncio era estratégia, mais de acordo com o perfil da companhia. A outra parte da história é que a Cornershop foi catapultada pela pandemia, como boa parte do setor de comércio eletrônico e logística. A capital cearense agora se junta a São Paulo, Campinas, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Vitória, Goiânia, Recife e Salvador.
A chegada a novas cidades não foi exatamente um problema. Embora mantenha operações separadas em relação ao Uber, a Cornershop compartilha das informações de inteligência do gigante, o que acaba dando uma boa noção sobre como funciona cada mercado. “O Brasil é um continente, com cada região com as suas particularidades. Precisamos estabelecer operação em cada uma delas. É diferente de outros países latinoamericanos, onde a operação se concentra em uma única cidade”, explica Lulion.
O desafio foi acelerar as parcerias com mercados e a atração de “shoppers” – os profissionais que realizam as compras e as entregas das mercadorias. Em relação aos estabelecimentos parceiros, a Cornershop conseguiu uma rede considerável para fazer frente a competidores gigantes, como o Rappi, e apps especializados de supermercados, como o James, do Grupo Pão de Açúcar. Entre os parceiros, estão Carrefour, BIG, Sam’s Club, Hirota, Atacadão, Barbora, Emporium São Paulo, Varanda, Maxxi Atacado, Mercadorama, Nacional e Bompreço. Além disso, uma rede de estabelecimentos menores, como açougues, mercearias, padarias e docerias também estão no cardápio.
Shoppers
Já o sistema para que uma pessoa se torne um shopper precisou passar por mudanças mais profundas. “Antigamente, o treinamento exigia presença física e tinha aulas. Com a pandemia, precisamos fazer toda automação do processo, de envio de documentos à controle de qualidade, para que fosse feito à distância”, diz Lulion. Qualquer pessoa pode se candidatar a shopper no próprio app da Cornershop.
“Os shoppers são ponto chave no nosso serviço”, diz Lulion. Isso porque, ao contrário de outros serviços, a Cornershop não separa a figura do comprador e do entregador: todo shopper deve ter um veículo (com ano igual ou superior a 2005) para poder realizar as compras, de até 50 itens – em um volume que pode ser bem maior do que o que se pode carregar no baú de uma motocicleta.
Além disso, a remuneração tem formulação mais complexa. Além de uma taxa fixa, o algoritmo considera o número de entregas, a distância percorrida pelo motorista, o peso da compra, o número de itens coletados e o período em que o profissional esteve online e disponível. Quem chega no app não recebe imediatamente tarefas muito complicadas.
“Um novo shopper não pode fazer uma compra de 50 ítens. Fazer compras é uma tarefa complexa, e ele pode travar. Por isso precisamos treinar os profissionais”, diz Lulion. Dessa maneira, os profissionais evoluem dentro da plataforma, o que tende a aumentar a sua renda. Mas nem sempre isso é verdade: segundo apurou o Estadão com profissionais da Cornershop, mas que também prestam serviços de entrega para a Uber, a diferença de rendimentos em cada plataforma não é significativa.
Consolidação
Com a chegada em Fortaleza, a Cornershop deve dar uma pausa na expansão para trabalhar na consolidação, especialmente porque a competição no segmento tem se intensificado – além de Rappi e James, a empresa tem ainda a competição do iFood, que tem crescido no mercado de forma agressiva, com expansão e compras de outras startups. “Essa é uma maratona, não é uma corrida de 100 metros. Vamos tentar provar o nosso valor com o tempo. É um projeto de longo prazo”, diz o executivo.
Para isso, porém, a companhia não busca mais dinheiro com investidores. “O investimento que o Uber fez na compra de sua participação na empresa nos garantiu caixa para nossos planos. Se o Uber vai adquirir toda a operação? Só o futuro pode dizer. Por enquanto não, mas o mundo das startups muda muito rápido”.
Fonte: Terra
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