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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Arezzo flerta com os homens depois de um ano no pregão

Um ano de vida como companhia aberta trouxe para a Arezzo as mudanças naturais do processo, mas também uma particular. "A Arezzo não aparece mais só nos editoriais de moda femininos. Passou a frequentar muito o caderno de economia e o público masculino conhece mais a empresa", conta Anderson Birman, fundador e presidente da Arezzo.

"Os homens agora estão me cobrando para fazer sapatos para eles! Não sei por quanto tempo mais vou resistir a criar a Arezzo Uomo", diz. Apesar do comentário, ele diz que por enquanto a ideia, que seria de certa forma uma volta as origens já que a empresa surgiu em 1972 produzindo calçados masculinos, está apenas na sua cabeça. "Não temos nada ainda no papel", diz.

Apesar do interesse dos homens pelos sapatos, ele acredita que a peça nunca exercerá neles o mesmo fascínio que tem sobre as mulheres - o que fez a empresa direcionar a elas sua produção. "A questão está no salto. Quando sobe no salto, a mulher virá outra mulher. É daí que surge a atração. Os homens não usam saltos", diverte-se Birman.

Segundo o executivo, pesquisas internas mostram que 87% das compras das mulheres na loja são por impulso. No entanto, 95% das clientes que compram os calçados na Arezzo dizem que voltarão à loja. "Por mais que você tenha uma coleção de sapatos, sempre usa aqueles que são confortáveis. Conforto é uma grande preocupação da Arezzo."

O aniversário de um ano na bolsa também marcou a saída da Tarpon do quadro de acionistas da Arezzo. A gestora de investimentos se associou à empresa em 2007, após sete meses de negociações. Pagou R$ 76 milhões por 25% do capital. Vendeu uma parte na oferta inicial e o restante em março, embolsando R$ 435 milhões, quase seis vezes o que investiu.

"Assinamos uma pilha de papéis quando fechamos o acordo, até tirei foto. Mas nunca tivemos de olhar nenhum desses contratos ", afirma Birman. Sobre o ambiente de trabalho com os "meninos da Tarpon", ele diz que foi uma parceria com desafios constantes.

"Em janeiro de 2011, em uma reunião de conselho, eu disse: este ano, vamos fazer um Ebitda de R$ 100 milhões. O Edu (Eduardo Mufarej, sócio da gestora) duvidou. Apostamos uma garrafa de vinho, desses bons e bem caros. Entreguei o resultado, mas ele não me pagou até hoje", conta entre gargalhadas Birman. Mas ele diz que não quer que "Edu" entenda a revelação ao jornal como uma cobrança. "Não quero que ele pague. Quero que continue me devendo a vida inteira."

O sócio fundador da Tarpon, José Carlos Reis dos Magalhaes, é definido por Birman como alguém que está sempre olhando para frente e pensando grande. "Aprendi isso com o Zeca. Quando falei em Ebitda de R$ 100 milhões, ele disse: muito bem. Mas eu quero é saber quando é que vai chegar a R$ 300 milhoes."

Apesar de não ser mais acionista, a Tarpon continua com agenda na companhia - estão no conselho e indicaram executivos para a área financeira.

Sobre o relacionamento entre eles, Birman diz: "Eles são muito competentes em orçamento, gestão de pessoas. Só não entendiam do 'babado' [referindo-se ao mundo da moda]. Mas acho que todos soubemos levar a parceria. E eles tiveram muita paciência comigo."

Os executivos da Tarpon, quando se referem à Arezzo, afirmam que jamais tiveram a pretensão de entender mais de sapato do que os Birman - o filho de Anderson, Alexandre, é vice-presidente da empresa e do conselho. "Sapato é uma coisa que todo mundo sempre quer dar palpite. Mas acho que eles nunca tiveram foi tempo", brinca Birman.

"Nossa relação está acima da participação acionária. No negócio deles, chega uma hora em que tem que desinvestir", diz.

A Arezzo vale hoje na bolsa R$ 3 bilhões. Quando Tarpon ingressou na empresa em 2007, foi avaliada pela gestora em cerca de R$ 300 milhões. Quando chegou à bolsa, saiu por R$ 1,7 bilhão. O valor atual é próximo ao da Grendene, apesar de ter receita 50% menor do que a fabricante de calçados plásticos coloridos.

Mas Birman evita qualquer comparação entre os negócios. "A Grendene faz sapatos injetados, tem produção fabril. Nós fazemos calçados cortados e costurados e focamos o varejo", diz. "Mas o fato de valermos mais no mercado significa que os investidores têm expectativas maiores em relação ao nosso negócio, o que me dá uma responsabilidade maior", afirma Birman. Ele diz que, apesar de aquisições estarem entre os objetivos da empresa na abertura de capital, ainda não conseguiu concluir nenhuma por diversas razões, que incluem problemas societários, fiscais, trabalhistas ou de sinergias pouco claras.

"Quero fechar uma aquisição que eu tenha certeza de que será positiva para meu negócio. Hoje dedico 20% do meu tempo a olhar empresas e não consigo fazer nada", diz. "Mas nenhum investidor me cobra aquisições. Quem sempre pegunta são os jornalistas", afirma Birman, completando que se não fechar compras, poderá distribuir o dinheiro aos acionistas.

"O que eu não posso é perder o olho do meu negócio, das minhas lojas. Sempre digo que o investidor aqui na Arezzo tem tapete vermelho, mas quem manda aqui é a consumidora." Em relação ao futuro, Birman vê com bons olhos, pois acha que a Arezzo se insere no negócio da aparência, que hoje em dia "não é mais uma opção, e sim, uma necessidade".


Fonte: Valor Econômico

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