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terça-feira, 7 de novembro de 2017

Gucci muda fórmula, lidera avanço do luxo e cresce 46% em 2017

Sair do rol das grifes mais insossas do luxo para a mais copiada do mundo. Sucesso da Gucci é lido pela estratégia e resultados positivos.
Sair do rol das grifes mais insossas do luxo para a mais copiada do mundo, dos trimestres com avanço tímido da receita para um crescimento exponencial de 46% ou, como definiu à Folha o presidente da Gucci, Marco Bizzarri, 53, criar o mesmo que “dez marcas em seis meses”.
 
A etiqueta que mais cresce no mundo passou a Saint Laurent como a de maior faturamento do grupo francês Kering, também dono da Bottega Venetta e da Puma. O faturamento de janeiro a setembro supera o total do ano passado, quando a Gucci vendeu mais de € 4 bilhões do seu estilo “vintage-nerd”.
 
Isso significa que, independentemente dos resultados até dezembro, este será um ano de recorde de vendas para terceira marca mais valiosa do luxo, um segmento que, segundo consultorias especializadas, deve crescer apenas 2% no mundo.
 
Os números confirmam o sucesso da fórmula de Bizzarri em assumir riscos no campo criativo e aplicar na prática os mantras que a maioria das grifes deixam na teoria, como o uso de ferramentas on-line como plataforma de comunicação, e não apenas de vendas, estilo constante, sem mudanças periódicas no tipo de moda ofertada, e gerência afinada com o núcleo de criação.
 
Em palestra no Iguatemi Talks, evento promovido em São Paulo pelo grupo de shopping centers homônimo, na segunda-feira (23), o executivo tentava explicar à plateia a lógica, em falta no mercado de luxo, de dar ao estilista a última palavra sobre o que será vendido nas lojas.
 
“O negócio da moda é criar oferta, e não demanda, como acontece quando se replica o que já está no mercado. Nunca falaria para [Alessandro] Michele o que ele tem ou não de fazer”, diz ele.
 
Michele, 42, é a outra metade da nova Gucci. O estilista trabalhou por 12 anos na equipe de estilo da marca e, a mando de Bizzarri, sucedeu Frida Giannini na direção criativa da grife em 2015.
 
“São tempos confusos na moda. Muitos estilistas estão há mais de 20 anos na marca sem oportunidade para liderar. A questão da criação [de um novo modelo no luxo] é pensar como vamos fazer essas pessoas ascenderem, terem voz”, explica Bizzarri.
 
“O grande risco na moda é não tomar riscos, porque sem eles, na moda, você morre.”
Os retoques na herança, palavra cara às marcas de luxo e perseguida com a manutenção de logos e acessórios centenários, foram pontos decisivos na nova gestão.
 
Em vez de replicar padrões antigos, a dupla mexeu nas estruturas do produto e fez parcerias. Nesse caso, com um detrator.
 
O grafiteiro Trouble Andrew, que pichava a logo da marca em prédios e outdoors, foi contratado para intervir nas criações de Michele.
 
Sucesso imediato, a Gucci Ghost virou símbolo de como, de acordo com Bizzarri, é importante para uma marca “aceitar que o trabalho de criação não é só você que impõe, mas também o que as pessoas acham de você”.
 
“A reação normal de uma marca seria ligar para advogados e ir atrás [do pichador], mas pensamos: por que não trabalhar com ele?”
 
OTIMISMO SUSTENTÁVEL
“Amor”, “futuro” e mensagens de otimismo são recorrentes no portfólio das peças desfiladas, cuja estética mistura brilho, profusão de cores e estilo disco.
“O noticiário está cheio de notícias ruins. Não acho que devemos subestimar o que acontece no mundo, mas é provado cientificamente que as pessoas esperam ver atitudes otimistas.”
 
A estética repetida é um diferencial e, para parcela da imprensa especializada, também calcanhar de Aquiles da grife. Em uma indústria ainda movida pelas tendências passageiras, é quase incômodo, não fosse acompanhado de histórias bem amarradas, acompanhar o “livro” que Bizzarri diz estar sendo escrito por Michele na moda.
 
“Oferecemos experiência. Você pode ver uma estética similar entre um desfile e outro, mas se for a uma loja verá como as peças são diferentes. A ideia é criar histórias.”
Acrescenta: “Não estamos preocupados [com a pressão por mudança], porque acredito estarmos longe de um limite. Apenas começamos”.
 
AMBIENTE
Sobre o aspecto ambiental, a marca já conseguiu mitigar o uso de água e o desperdício de suprimentos na produção. No início do mês, também anunciou que não usará mais nenhuma pele animal em seus produtos.
 
Bizzarri diz que um projeto para criar couro biológico, feito a partir de extratos da natureza, está no radar e nos investimentos da marca.
 
Fonte: Folha de São Paulo

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