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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Mais serviços, menos produtos: a mudança no mix dos shoppings já começou

As pessoas não deixaram de consumir, só estão fazendo isso de maneira diferente. Quem não entender isso corre o risco de tomar decisões terrivelmente equivocadas. Isso inclui, obviamente, os shopping centers.
Mercado Little Spain, uma das novidades do complexo Hudson Yards, em Nova York
A mais nova evidência desse movimento veio dos Estados Unidos, na forma de um relatório, divulgado na semana passada pelo International Council of Shopping Centers – ICSC, entidade que congrega centros comerciais mundo afora. Recheado de estatísticas norte-americanas, o documento prova que o fechamento de lojas nos Estados Unidos está relacionado às mudanças no comportamento dos consumidores, mais interessados em serviços do que em produtos.
Faz sentido. De um lado, ganhamos a possibilidade de nos abastecermos de produtos à distância, fazendo compras a partir do conforto de nossas casas ou escritórios. Essa conveniência, extremamente útil em tempos tão atribulados, transformou completamente o papel das lojas físicas e das equipes que nelas trabalham e reduziu a necessidade de vários segmentos do varejo de expandir sua rede para alcançar o consumidor.
De outro, nos tornamos uma sociedade hiper atarefada. Tempo passou a ser um ativo valioso, a ponto de estarmos dispostos a gastar dinheiro para economizar tempo. Como consequência, serviços que facilitam a vida, ou tornam-na mais prazerosa, têm ganhado espaço – literalmente.
Dito isso, vamos aos números.
De acordo com dados do Censo Econômico Americano, já há mais estabelecimentos de serviços do que dedicados ao varejo, nos Estados Unidos. Se somarmos as unidades operadas pelos dois setores, a proporção fica em 53% para serviços contra 47% para o varejo. Olhando em retrospectiva, a quantidade de unidades de varejo caiu 4,5% entre 2002 e 2017, enquanto as de serviços aumentavam 20,5% na América do Norte.
Dentro do espectro de serviços, os segmentos que mais somaram unidades nestes 15 anos foram os de restaurantes e bares (+30,9%), lavanderias (+11,1%) e centros fitness e esportivos (+44,2%). Vale destacar que, no mesmo período, o número de lojas de vestuário recuou 4,4%.
É claro que essa realidade também teria que impactar o mix dos shopping centers. Dados do ICSC mostram que operadores de alimentação e serviços já representam 33% da área locável em centros comerciais americanos.
Não é à toa. Pesquisa da Cushman Wakefield mostra que 53% dos frequentadores vão a shopping centers para comer e que adultos gastam hoje 12% mais em comida e bebidas do que há dois anos. Como consequência, o espaço locado para alimentação cresceu 39% e até 2020 deve haver 300 food halls nos Estados Unidos.
Saúde também é um importante impulsionador do segmento de serviços. Segundo a Accenture, a quantidade de clínicas médicas em centros comerciais saltou de 351 em 2006 para 2.800 em 2017 e segue em crescimento nos Estados Unidos. Tem mais: cerca de 10% dos shopping centers americanos possui alguma operação de cuidados com a saíde em seu mix, de acordo com a CoStar Realty. Já a presença de academias de ginástica em shoppings mais que dobrou nos últimos 10 anos.
Você deve estar pensando: quando será que tudo isso chega aqui ao Brasil? Na verdade já chegou.
Para ajudar sua reflexão, aqui vão alguns números nacionais. Lembra que na América do Norte, para cada 100 estabelecimentos a proporção é de 53 de serviços para 47 de varejo? Pois saiba que aqui no Brasil o desequilíbrio é ainda maior: se somarmos os estabelecimentos desses dois setores, encontraremos 60% dedicados a serviços e 40% a atividades varejistas, de acordo com relatório de 2018 do IPC Maps. Para tornar essa informação ainda mais bombástica, vale dizer que entre 2001 e 2018 a quantidade de operações de varejo triplicou em nosso país. Enquanto isso, as unidades de serviços cresceram nada menos do que seis vezes. Moral da história? Os brasileiros também estão consumindo muito mais serviços do que antigamente.
Não por acaso as vendas das lojas de serviço cresceram 15,5% nos shoppings da Multiplan e 13,5% nos da Aliansce, no terceiro trimestre de 2019, como publicado no balanço de ambas as empresas. Aumento bem superior aos das vendas totais, que tiveram elevação de 4,8% na Multiplan e 3,5% na Aliasnce.
Todas essas informações apenas confirmam a necessidade da reinvenção do conceito do shopping center, que de templo de consumo torna-se um espaço orientado para apoiar a comunidade de pessoas que vive e trabalha ao seu redor no seu dia a dia.
É claro que isso obriga a revisão das estratégias comerciais, operacionais e de marketing. Mas isso já é tema para um próximo artigo.
Por 
Luiz Alberto Marinho

Fonte: Mercado e Consumo

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