Após sofrerem o trauma do fechamento de todos os shoppings em meio à pandemia, as grandes redes percebem uma melhora gradual das vendas desde a reabertura e esperam um ano de recuperação em 2021. Mas já se deram conta de que nada será como antes. O comércio eletrônico caiu no gosto do povo e exigirá que os shoppings se desdobrem para provar aos clientes que o rolezinho ainda vale a pena.
“Nosso desafio daqui para frente estará em aumentar a proposta de valor e o motivo pelo qual tanto os consumidores quanto os lojistas deverão estar nos shoppings”, analisou o presidente da BRMalls, Ruy Kameyama.
Desde o começo da pandemia, a BRMalls já conectou metade dos 31 shoppings a múltiplos marketplaces (sites de vendas, como Mercado Livre, Amazon e Magalu, por exemplo) e ampliou investimentos no Delivery Center, empresa que faz entregas rápidas a partir dos shoppings.
Kameyama acredita que, daqui para frente, os proprietários de shoppings deverão ampliar a oferta de serviços aos lojistas, como apoio para integrar o varejo físico aos sites de vendas, uso dos empreendimentos como centros de distribuição de mercadorias, criação de novos canais para exposição de marcas e até mesmo oferta de capital de giro.
Essas iniciativas já estavam no radar das empresas, mas foram aceleradas com a crise e vão se aprofundar em 2021, na visão do executivo. “Para mim, a palavra que define 2020 é transformação”, disse Kameyama, durante congresso online realizado pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que reuniu lideranças do setor.
Por sua vez, o presidente do conselho de administração da Aliansce Sonae, Renato Rique, citou que o grupo agilizou a integração do estoque de 3,8 mil lojas a marketplaces neste ano. O foco, segundo ele, tem sido os varejistas de pequeno e médio porte que não tinham sites próprios de vendas. “Vamos cada vez mais agregar serviços e facilidades para que os lojistas dos shoppings possam estar integrados a vários canais para alcançar os consumidores”, frisou.
O presidente da Iguatemi, Carlos Jereissati, espera um consumidor mais seletivo daqui em diante, uma vez que ele pode escolher entre a conveniência de uma compra pela internet ou a experiência de ir ao shopping e ver o produto em suas mãos. Por isso, a Iguatemi vai manter os diversos canais de vendas criados ou ampliados nos últimos meses, que vão desde o marketplace próprio até opções como drive thru e personal shopper.
“Nós queremos permitir ao consumidor decidir a compra quando quiser e de onde estiver. Sabemos que no pós-crise muitos consumidores vão continuar usando os canais online, uns mais outros menos”, contou. “A integração entre o mundo físico e digital será essencial.”
As visitas ainda serão relevantes
O presidente da Multiplan e pioneiro do mercado nacional de shoppings, José Isaac Peres, concordou com a necessidade de reforçar os canais de vendas online. No entanto, defendeu a tese de que o fluxo de visitantes continuará sendo muito significativo para a indústria. Ele avaliou que a força do hábito ficou demonstrada na quarentena, quando muitas pessoas iam aos shoppings mesmo quando eles ainda estavam fechados. “Elas pediam para dar só uma entradinha”, disse.
Peres acrescentou que os empreendimentos também precisarão ser adaptados para oferecer opções de lazer e entretenimento aos visitantes. Uma das apostas para atrair o público, segundo ele, são os espaços ao ar livre e com mais áreas verdes. “A compra presencial, o contato e o convívio são importantes. Para isso, vamos precisar ‘por mais molho na salada'”, afirmou, citando como exemplo o último centro de compras inaugurado pelo grupo, em Canoas (RS), conectado a um parque arborizado.
Para o presidente da Multiplan, é possível até que os shoppings bem estruturados consigam atrair lojistas de rua sobreviventes da crise e que decidam buscar um ambiente mais confortável e seguro para seus consumidores.
Na mesma linha, o presidente da Ancar Ivanhoe, Marcelo Carvalho, concordou com a necessidade de reforço dos canais digitais, mas enfatizou a importância de valorizar os empreendimentos físicos. “Se nosso core business for atender as pessoas em casa, vamos quebrar, porque não temos o mesmo nível de competitividade que uma Amazon“, alertou o presidente da companhia, que é dona de 18 shoppings e administra outros seis – o maior grupo de shoppings fora da Bolsa.
Perspectivas
Os shoppings do País já estão vendendo o equivalente a 81% do nível pré-crise, de acordo com dados da Abrasce. Entre os empresários, o clima é de otimismo, apesar dos desafios. “Em 2021, o consumidor vai poder voltar aos shoppings com mais tranquilidade. Será um ano de recuperação”, previu Carvalho, da Ancar Ivanhoe.
“Eu diria que estou surpreso com o ritmo da volta” disse Peres, da Multiplan. “Teremos novembro e dezembro muito melhores, até melhores do que no ano passado. O isolamento criou uma demanda reprimida. As pessoas querem sair, passear, comprar, sentar em restaurantes”, comentou.
O presidente da BRMalls também disse ver o setor entrando neste quarto trimestre melhor do que o imaginado quando a pandemia chegou ao País. “O setor reagiu muito rápido”, disse Kameyama.
Fonte: Estadão
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