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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Shoppings mais verdes e tecnológicos: as tendências aceleradas pela pandemia

DURANTE O PICO DA CRISE SANITÁRIA, EMPREENDIMENTOS APROVEITARAM PARA FAZER MANUTENÇÕES E ADEQUAÇÕES PARA A REABERTURA. AGORA, É HORA DE PENSAR NO FUTURO 

Projetos de implantação, expansões e retrofits no setor de shopping centers foram impactados pela pandemia. Na maior parte dos casos, os novos negócios ficaram paralisados. Por outro lado, as reformas, obras de revitalização, expansão e adequação já iniciadas continuaram ou foram até mesmo aceleradas. 

Durante o período em que estiveram fechados, os empreendimentos se preocuparam em fazer melhorias de manutenção e de operação, especialmente para cumprir os protocolos estabelecidos para a retomada. As obras emergenciais e as que gerariam receita a curto prazo também continuaram ativas.

Passado o pico da crise sanitária e com a reabertura dos shoppings em todo o Brasil, empreendimentos e fornecedores passam a olhar para o futuro. Tendências arquitetônicas que já eram observadas pelo setor, como mais áreas verdes e espaços de convivência, ganharão ainda mais força. Além disso, a integração do on e do off-line passa a ser ainda mais expressiva.   

Manutenção e melhorias 

De acordo com o Fabio Aurichio, diretor criativo da ACIA Arquitetura, durante o período, foram realizadas muito mais adaptações operacionais para atender os protocolos de reabertura, do que mudanças estruturais de reforma e arquitetura. “Tiveram algumas solicitações de ajustes de layouts, mas a maioria foi um processo interno de operação. Os projetos de reforma que já vinham do ano passado avançaram um pouco mais durante o fechamento dos empreendimentos com alguns de nossos clientes.”

No Shopping Cidade Jardim, as obras estão permitidas das 23 horas às 10 horas enquanto o empreendimento estiver com o horário de funcionamento reduzido | (Foto: Marcelo Donatelli)

Nos empreendimentos da JHSF Malls, enquanto as operações estiveram suspensas, foram realizadas algumas obras e manutenções, já que era possível realizá-las o dia todo. O período permitiu uma manutenção preventiva única das escadas rolantes, do sistema de ar condicionado, dos elevadores, em pequenos reparos cosméticos (pintura e acabamentos) e até no reforço de tratamento de todo o sistema de alimentação de água. 

“Aproveitamos ainda para acelerar as reformas dos lojistas. Cada caso foi tratado individualmente. Tivemos até mesmo um lojista que trabalhou com obra durante 24 horas. Foi o caso do Empório Varanda, novo supermercado do Shopping Cidade Jardim, inaugurado em julho”, diz Walter Borghi, diretor de operações da JHSF Malls. No Shopping Cidade Jardim, a maioria das melhorias foi executada pela equipe orgânica, para conseguir reduzir as despesas condominiais dos lojistas. 

A companhia também manteve a todo vapor a obra do novo empreendimento Cidade Jardim Shops, em região nobre da cidade de São Paulo, previsto para ser inaugurado ainda no segundo semestre. “Não paramos, pelo contrário, aceleramos. Implementamos todos os protocolos de segurança, turnos alternados, distanciamento, e todos os EPIs constantes do decreto de São Paulo”, conta Borghi.

Novas medidas para a execução de obras foram adotadas pelo Cantareira Norte Shopping 

No Cantareira Norte Shopping, o período do fechamento foi utilizado para planejar as adaptações necessárias que seriam adotadas para a reabertura. “Para obras e reformas, as equipes trabalharam de forma reduzida e foram separadas por atividades: civil, elétrica, hidráulica. Os protocolos adotados são os da Abrasce, aprovados pela Prefeitura de São Paulo. A fiscalização interna para obras e reformas é realizada pela equipe interna de Bombeiros Civis e Segurança”, detalha Chang Man, gerente de operações do empreendimento.

O Alpha Square Mall também fez um planejamento de manutenção durante a pandemia. Inclusive, com a permissão para obras tanto durante o dia quanto no período noturno. “Realizamos pintura de corredores de banheiros, manutenção e pintura de hall de elevadores e escadas de emergência, além dos cuidados com o paisagismo. As lojas que estavam em obras para a reabertura foram liberadas a darem sequência a esse trabalho”, relata a superintendente Adriana Saad. 

O Alpha Square Mall manteve um manutencista e a equipe de segurança orgânica para realizar o acompanhante e o departamento de engenharia continuou em funcionamento. Os novos protocolos foram aprovados pelo Conselho Especial que administra o shopping. 


O Alpha Square Mall aproveitou o período de fechamento para realizar a manutenção de diversos pontos, inclusive o paisagismo

A fase de retomada

Com todos os empreendimentos reabertos em agosto, observa-se agora uma retomada das reformas, mas ainda focada no curto prazo. Segundo Bruno Max, diretor comercial da GPE Construtora, o momento é de planejamento para o próximo ano. “A partir de julho, voltamos a conversar com alguns clientes que têm nos solicitado revisão dos orçamentos e de reengenharia de valores, para seja possível trabalhar esse novo cenário em 2021.”

Atualmente, a ACIA Arquitetura, que atende vários players do mercado, está com reformas em diferentes estágios. Algumas delas, estruturais em fase de implantação, outras sendo retomadas e, ainda, novos trabalhos sendo iniciandos. “O mercado está voltando porque são projetos de longo prazo com o conceito que todos estão chamando de ‘novo normal’”, explica Aurichio.

A Abduch Construtora e Incorporadora continuou trabalhando em ritmo relativamente normal, pois a grande maioria de suas obras já iniciadas continuou. “As maiores dificuldades nem foram relacionadas aos shoppings, mas com alguns fornecedores. Além disso, pudemos executar os serviços durante o dia enquanto os empreendimentos estiveram fechados, o que facilitou algumas atividades como a entrada e a saída de material ”, diz o empresário Tomé Abduch. Com mais de 1.600 obras entregues, a empresa tem em seu portfólio obras para grandes varejistas como Nike, Sephora, Outback, Cobasi, Grupo Arezzo, Mundo do Enxoval e Bacio di Latte.

Segundo Abduch, apesar de não terem parado totalmente, neste momento, há um aquecimento bem significativo do mercado. “Os principais clientes da construtora estão retomando as obras”, pontua. Em setembro, por exemplo, estavam em execução o restaurante Piu, no Shopping Pátio Higienópolis, e uma operação da Cobasi, em um shopping no interior paulista. 

Entre as obras entregues feitas pela Abduch durante esse período da crise sanitária, está o restaurante Aima, do Grupo Kitchin, localizado no Shopping Iguatemi

A GPE Construtora trabalhou com uma escala no conceito célula, ou seja, dividiu a jornada de trabalho com três equipes com cinco colaboradores cada. Em dois turnos, eram 30 pessoas em uma obra que antes tinham 50 colaboradores. Tudo com o objetivo de evitar aglomeração, manter o distanciamento e facilitar a rastreabilidade em caso de Covid-19. “Mesmo com essa janela de trabalho estendida, a pandemia gerou um acréscimo no prazo de 15 a 20% no final do processo porque precisamos distribuir melhor as equipes”, relata Max.

Além de seguir os protocolos dos empreendimentos, a empresa ainda fez um protocolo próprio, definiu as áreas de trabalho de cada equipe e estabeleceu hierarquias e trocas de informação entre líderes e liderados, evitando a comunicação transversal.

A aceleração digital dos empreendimentos também tem refletido em algumas mudanças estruturais das operações. Na GPE Construtora, por exemplo, um cliente que pluga os shoppings em uma plataforma digital teve que fazer uma transformação física nos empreendimentos. Precisou construir um espaço especifico para que os shoppings pudessem vender on-line. “É basicamente uma estação de recebimento e entrega de produto para o delivery, com capacidade para receber os motoboys para a coleta dos produtos. Implantamos uma unidade e já estamos negociando 15”, explica Max. 

De acordo com o Aurichio, esses hubs logísticos também irão proporcionar uma aceleração nas reformas, pois é necessário adaptar esse novo canal de venda dentro do shopping.

Revitalização da varanda gourmet do Shopping Boulevard, do Rio de Janeiro, pela GPE Construtora

Daqui para frente

O shopping do futuro sempre foi um debate muito constante. Mas será que a pandemia irá agilizar essas mudanças que tanto têm se discutido? Um fato já é concreto. A crise sanitária acelerou o processo de modernização do ponto de vista tecnológico com a inserção dos shoppings no mercado on-line. O próximo passo será intensificar o processo de reformas e revitalização, com áreas que se relacionam cada vez mais com a vida contemporânea. 

Alguns empreendimentos já foram projetados com essa visão de atender a sociedade, como, por exemplo, o ParkShopping Canoas, que está integrado a um amplo parque por meio de uma passarela. Alguns empreendimentos construídos há mais tempo também investem em reformas com esse objetivo. Porém, como exigem altos investimentos, esses projetos são de longo prazo. 

Segundo Aurichio, as pessoas passaram a utilizar mais os espaços públicos, mas falta infraestrutura para esse novo comportamento, pois a sociedade muda muito mais rápido do que os municípios. “Então, é o momento do shopping abrir os braços da sociedade, pois consegue responder em uma velocidade muito maior do que as cidades. A pandemia veio consolidar esse conceito e acelerar essa mudança debatida há alguns anos. O ‘novo normal’ é muito mais social, é necessário ter mais espaços verdes e abertos nos empreendimentos”, explica.

                                        Esse projeto na cidade de São Paulo prevê a integração das operações com áreas verdes

E essa transformação também já está em execução em alguns empreendimentos que a ACIA Arquitetura atende. Em um projeto no estado de Minas Gerais, 50% do estacionamento está sendo transformado em um parque com direito a lago e restaurantes ao redor, inclusive com áreas sombreadas e gramadas.

“Em um shopping de São Paulo, estamos transformando parte do estacionamento em uma praça verde com árvores, fontes, playground e áreas para pets. No interior de São Paulo, estamos com uma obra em que o empreendimento ganhará um lago com barcos”, exemplifica. A tendência é que quando passar essa insegurança financeira causada pela crise sanitária, esse movimento de transformação arquitetônica dos empreendimentos ganhará ainda mais força. 


Perspectiva do projeto da ACIA Arquitetura já em execução para um shopping em Minas Gerais 

Fonte: Revista Abrasce SET/OUT 2020 - EDIÇÃO 231 ANO 33



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