No começo do ano, quando os principais temas do varejo eram as tendências que chegaram ou ainda estavam por vir, era raro achar algum conteúdo que não citasse metaverso, Inteligência Artificial ou IoT (Internet das Coisas, em tradução livre). Nessa mesma época, grandes players varejistas já disputavam para mostrar quem possuía as ações tecnológicas mais avançadas, considerando a concorrência acirrada. Porém, enquanto isso acontecia em frente aos holofotes dos gigantes, os pequenos varejistas e empreendedores estavam se perguntando como poderiam se tornar mais digitais e alinhados com o consumidor sem possuírem o mesmo leque de recursos aos quais as grandes marcas têm acesso.
O setor de pequeno e médio porte sofreu impactos fortíssimos a partir de 2020, quando a pandemia teve início. Nos últimos dois anos, muitos conseguiram se manter, outros não, e ainda houve vários que decidiram começar durante o período pandêmico. Segundo o IBGE, cerca de 716 mil empresas consideradas de pequeno a médio porte fecharam as portas na pandemia. Ao mesmo tempo, de acordo com uma pesquisa do Sebrae em parceria com a FGV, foram abertas 3,7 milhões de empresas consideradas de pequeno e médio porte em 2021 no Brasil. Com tantas novas marcas no mercado, é natural que o crescimento dessas PMEs tenha um ritmo menos acelerado do que o das grandes varejistas. Mas se engana quem acha que o setor não percebeu o peso de incluir a digitalização nas estratégias. Um estudo encomendado pela Microsoft mostrou que 97% das PMEs consideram que ter tecnologia nos processos é importante.
Muitos negócios conseguiram driblar o abre-e-fecha dos comércios físicos se adaptando e migrando para o online, por meio de e-commerce, redes sociais ou marketplaces. Atuar com offline e online já era algo comum para gigantes como Casas Bahia, Magazine Luiza e Americanas, por exemplo. Quando a crise das lojas presenciais chegou, elas já possuíam uma forte estrutura de estoque e logística para suprir tal brecha – e, mesmo assim, foi preciso fazer adaptações. E agora, em um ano promissor para as lojas de rua por conta da reabertura de 100% do comércio, os pequenos negócios que se equilibraram bem nesses tempos não abandonaram o digital, apenas combinaram ambas as operações, fortalecendo e amadurecendo a frente online e se transformando em varejos phygitais. Porém, para se manterem no páreo competitivo, já é necessário ir além, mesmo que pouco a pouco.
Em tempos nos quais novas tecnologias surgem rapidamente, é crucial que as PMEs não deixem de acompanhar as tendências. Isso não significa que, do dia para a noite, esses negócios precisarão destinar todo o investimento para essas novidades. Porém, dar pequenos passos que os diferenciem dos demais já será um ponto bem-visto pelos atuais e futuros clientes. Ter um atendimento via redes sociais automatizado, formas de pagamento digital, campanhas de marketing digital estruturadas e em linha com as atuais campanhas nas lojas físicas, criação de vantagens especiais para clientes recorrentes são bons caminhos – ou que tal pensar na contratação de influenciadores para impulsionar a audiência com certo público-alvo?
Implementar algumas dessas ações sem prejudicar o orçamento e retorno financeiro do negócio requer um planejamento minucioso, mas pode trazer resultados preciosos para o crescimento da marca. Afinal, atingir os níveis de expectativa do consumidor não é tarefa simples, uma vez que eles também passaram pelo processo de digitalização na pandemia e esperam que os negócios tenham evoluído de forma ainda mais intensa. As PMEs que entregarem experiências ágeis e tecnológicas na medida do possível irão fortalecer o relacionamento entre cliente e loja, além de aumentarem as chances de conquistar novos públicos. Optar pelo tradicional e não abraçar novas ideias é um risco que pode resultar na perda de relevância diante de um cenário com tendências e inovações que o brasileiro busca e adota com mais facilidade a cada dia que passa.
Caio Camargo é diretor comercial da Linx.
Fonte: Mercado & Consumo
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