O foodservice brasileiro passa por um momento de ajuste à realidade em 2023. Após um forte crescimento em 2022, quando não havia mais quaisquer restrições ao consumo e à circulação, neste ano o setor encarou um cenário mais complexo, perdendo ritmo de crescimento.
Embora o gasto total do consumidor no setor tenha aumentado de forma consistente ao longo dos últimos dois anos, segundo dados do Crest, no acumulado de nove meses (janeiro a setembro), 2023 está apenas 2% acima de 2022, mostrando que a retomada do consumo no pós-pandemia perdeu ritmo – caindo 3% no 3º trimestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2022, a primeira queda dos últimos dois anos.
A princípio, o cenário econômico parece favorável ao consumo, segundo diferentes dados do IBGE: queda rápida da taxa de desocupação, que atingiu 7,6% em no trimestre móvel finalizado em outubro (a menor desde 2015); crescimento do rendimento médio real da população, recuperando as perdas da pandemia; queda consistente da inflação, sobretudo da alimentação dentro do domicílio; além da confiança do consumidor, que segue em crescimento de acordo com a FGV.
Por outro lado, há o forte endividamento das famílias, que atingiu 77,4% em setembro, conforme levantamento da Confederação Nacional do Comércio. Ou seja, apesar de um cenário aparentemente favorável, a renda disponível para consumo está limitada por obrigações financeiras e inadimplência.
A redução do consumo no foodservice não impacta apenas os operadores na ponta final, mas também os diferentes elos da cadeia de valor, principalmente em suas etapas de abastecimento.
Segundo o Foodcheck, as compras de insumos por restaurantes, lanchonetes e padarias mostraram tendência de queda ao longo do ano. Essa redução das compras atingiu os diferentes canais de abastecimento, como os atacadistas, distribuidores, indústria, varejo e cash&carry. Em outubro, a queda do volume de compras foi de 8%, se somando às quedas dos três meses anteriores.
Mas diferentes aprendizados ao longo do ano mostram possíveis caminhos de recuperação: melhor custo-benefício das ofertas, praticidade, conveniência, vantagens por meio de programas de fidelidade, simplificando a jornada do consumidor.
É esperado, porém, que a lenta recuperação do setor permaneça desigual, considerando que a maioria dos restaurantes brasileiros, independentes e pequenos, têm orçamento muito limitado e margens curtas para investir em soluções mais caras, que ficam mais restritas às redes, com maior capacidade de investimento.
Apesar de projeções positivas para os próximos dois anos, a recuperação efetiva do foodservice brasileiro passa por um crescimento consistente da economia brasileira, permitindo ganhos reais na renda das famílias, redução do seu endividamento e aumento sustentável do consumo.
Fonte: Mercado & Consumo
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