No mês passado, durante o Inspiração 2012 (evento internacional de inovação e design estratégico para o varejo, organizado pela FAL), dois debates chamaram atenção para um dado importante: o alto custo dos shoppings brasileiros.
De um lado Claudio Sallum, sócio-diretor da Lumine Soluções em Shopping Centers, destacou os altos custos de implantação e principalmente de operação de um shopping, que inevitavelmente acabam sendo repassados para o lojista. Por outro lado, Dácio Oliveira, do Grupo Valdac, mencionou a lacuna legal nas leis de condomínio, que são adotadas pelos shoppings brasileiros, apontando uma grande diferença se comparados, por exemplo, aos custos repassados aos varejistas de shoppings americanos e brasileiros.
Segundo a ABRASCE (Associação Brasileira de Shopping Centers), no ano de 2012 o Brasil contará com aproximadamente 42 novos shopping centers, chegando até dezembro a 472 shoppings em todo o País. O grande crescimento deste setor, consequência da demanda reprimida em tempos passados, traz também grandes desafios: um maior leque de ofertas e pontos de venda para os varejistas e, simultaneamente, maior tempo de consolidação para os novos centros de consumo.
Se alguém está se perguntando qual a conexão disto com o tema sustentabilidade, a resposta é tudo!
Um shopping desenvolvido com reais conceitos sustentáveis pode trazer grande diferencial competitivo para todos os envolvidos na operação: empreendedor/administrador, varejista e consumidor.
Analisando cada um destes players é possível entender porque um "shopping sustentável" é muito mais do que uma simples escolha de marketing, uma real necessidade para os futuros empreendimentos:
- Do ponto de vista do empreendedor/administrador, a implantação de uma construção embasada em conceitos sustentáveis - como a correta escolha e implantação no terreno, a otimização de recursos como água e energia, a escolha consciente de materiais/acabamentos e a inovação no design e equipamentos – traz não só um rápido retorno financeiro na operação e manutenção (não custando necessariamente mais na implantação), mas também uma grande ferramenta de comunicação e venda para seu público varejista.
- O varejista ganha com um custo de operação menor, e maior tempo de permanência do consumidor no local, consequentemente gerando um maior contato da marca com o público-alvo, além de maior rapidez na consolidação do empreendimento.
-O consumidor ganha não só um novo edifício de compras, mas uma alternativa agradável de lazer e estar.
Porém, se parece tão simples esta relação ganha-ganha, por que é tão difícil ver este raciocínio implantado de fato? Uma das possibilidades é a quantidade de paradigmas implantados em relação ao tema sustentabilidade, que devem ser superados.
Para listar apenas dois deles, começamos pelo paradigma de que construir sustentável é muito mais caro e não se paga. Isto até poderia ser uma verdade há 15 anos atrás: o know-how da construção sustentável ainda era baixo e cadeias de suprimentos da construção civil não tinham acervo e nem escala para atender emandas sustentáveis, com preços acessíveis. Hoje, porem, estamos vivendo outro momento, não só com a proliferação de selos e certificações que são capazes de mensurar quanto sustentáveis podem ser uma construção, mas também com uma cadeia de materiais e tecnologias cada vez mais acessíveis.
Um outro ponto a se superar é a percepção de que o consumidor não está atento aos valores sustentáveis. O consumidor está mudando e procurando novos valores para se conectar com marcas. Valores emocionais que trazem a sensação de bem-estar, saúde, qualidade de vida, melhor aproveitamento do tempo livre e consumo de qualidade começam a ser cada vez mais procurados pelo consumidor e, contrariando a todas as expectativas, ele está disposto até a gastar mais por isto. Um prova é o grande crescimento do consumo de produtos orgânicos, que podem ser na média até 30% mais caros do que os alimentos comuns e que movimentaram em 2010, R$350 milhões, crescimento de 40% em relação ao ano anterior (fonte: Ministério da Agricultura).
Com todas estas grandes mudanças que vivenciamos nesta última década, temos que estar cada vez mais atentos às oportunidades que novas práticas podem gerar em nossas vidas pessoais e aos negócios. E a sustentabilidade sem dúvida nenhuma é uma delas. Shoppings sustentáveis devem ser uma realidade imediata e o empreendedor que perceber o real valor desta oportunidade sairá na frente dos demais.
Melissa Szuster Wagman é sócia-fundadora da Sustentrends, especializada em estratégias sustentáveis para varejo, e diretora da ABIESV (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para Varejo).
Fonte: Portal no Varejo
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