Em
tempos de crise, torna-se ainda mais importante compreender como os brasileiros
andam gastando seu rico dinheirinho. Nesse sentido, não há nada mais confiável
do que os dados fornecidos pela Cielo, com base em transações capturadas pelas
máquinas espalhadas em mais de 1,6 bilhão de pontos de venda em todo o
país.
Pois bem, segundo a Cielo, no
primeiro semestre de 2015 os consumidores de baixa renda dividiram seus recursos
quase que igualmente entre o varejo de bens duráveis e semi-duráveis (vestuário,
móveis, eletrodomésticos, lojas de departamento) e o de não duráveis (drogarias,
super e hipermercados, postos de combustível). O que sobrou (20%) foi destinado
a serviços. Nas famílias de média renda, duráveis e semi-duráveis responderam
por 42% do orçamento e não duráveis por 36%, cabendo aos serviços 23% do
dinheiro disponível.
Os
consumidores de alta renda, no entanto, gastaram de forma diferente. Neste
grupo, o consumo de duráveis e semi-duráveis respondeu por 37% da renda
familiar, não duráveis ficaram com 33% e os serviços com 30%. Como é possível
perceber, o gasto com serviços é bem maior entre os mais ricos, com destaque
para restaurantes - 35% do total gasto em serviços foram para alimentação fora
do lar.
Estudos
recentes explicam porque despesas com serviços crescem mais velozmente do que a
compra de produtos, em especial entre os consumidores de melhor poder
aquisitivo. Trabalhos como o do Prof. Thomas Gilovich, da Universidade de
Cornell, nos Estados Unidos mostram que a satisfação pela compra de produtos
caros reduz-se rapidamente, no mesmo ritmo com que as pessoas adaptam-se à vida
com a nova aquisição, seja ela um carro, computador ou TV de alta definição. Por
outro lado, experiências, tais como assistir a um bom filme, comer fora com
amigos, ver uma exposição, ir a um show de música, viajar ou aprender algo novo,
essas tendem a gerar lembranças positivas mais duradouras.
Outros
fatores também trabalham a favor das experiências, em detrimento dos produtos.
Um deles é a dificuldade de comparar experiências. Pense só - você pode até
achar que o seu celular é inferior ao do seu colega de trabalho, em função do
preço e das características de cada aparelho. Mas comparar um jantar que você
teve com amigos com o jantar dos outros é mais difícil - a comida pode ser
equivalente, mas o ambiente e o prazer de conviver com as demais pessoas é
único. Além do mais, as experiências proporcionam sensações de prazer e
aprendizado muitas vezes superiores às provocadas por bens
físicos.
Por
tudo isso, os shopping centers, especialmente os dirigidos aos clientes de alta
renda, deveriam ampliar a oferta de experiências. O desafio será construir um
modelo de negócios rentável, construído sobre uma base de experiências
relevantes e valiosas o suficiente para que as pessoas paguem por elas, assim
como já fazem com jantares, sessões de cinema ou peças de teatro. Considerando
que alguns segmentos com alta representatividade nos shoppings, como os de
vestuário, calçados, móveis e eletrodomésticos, estão há tempos com vendas em
queda, será preciso repensar o tenant mix.
E seguramente as experiências e
serviços ocuparão um espaço maior neste novo cenário.
Fonte: Blog do Marinho

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