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terça-feira, 31 de agosto de 2021

BRASIL, VAREJO E COVID-19


O varejo viveu um ano sem precedentes em 2020, com o advento da pandemia da Covid-19. Pela primeira vez na história do varejo, houve uma situação com clientes dispostos a comprar e lojas impedidas de vender.

Por Alberto Serrentino


Os desafios e impactos foram heterogêneos entre segmentos, mercados e empresas. Houve segmentos considerados essenciais, nos quais o desafio foi operacional, de segurança e planejamento de demanda e abastecimento; outros segmentos tiveram lojas fechadas por diversos períodos ao longo do ano. Como elemento comum, as mudanças nas jornadas dos clientes, migração de demanda e aceleração na maturidade digital dos consumidores.


A pandemia da Covid-19, que continua desafiando o varejo em 2021, deixará sofrimento e perdas em termos humanitários e sanitários, mas um grande legado para os negócios na aceleração digital e evolução cultural.


Finalizamos a edição 2021 do Ranking das 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro, com dados de empresas com faturamento anual superior a R$ 300 milhões em 2020. Esta é a 7ªedição realizada pela SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo), retrata as grandes empresas do varejo brasileiro, que em 2020 responderam por 45,5% do mercado nacional. Dentre elas há 139 empresas com faturamento anual superior a R$ 1 bilhão, 18 com mais de 1.000 lojas em operação no País, 34 com mais de 10.000 funcionários, 42 de capital aberto e 35 listadas.


Desempenho de vendas – os dados das últimas edições do Ranking da SBVC mostraram resiliência do grande varejo à crise de 2015-2016, capacidade de superação e aceleração das empresas a partir de 2017, confirmada em 2018 e 2019. Os desafios impostos pela pandemia em 2020 provaram mais uma vez a capacidade de adaptação e resiliência das empresas. O varejo teve grande disparidade entre segmentos em 2020, mas fechou o ano com crescimento real de 1,2%, contra um PIB com queda de 4,1%. As medidas de crédito, proteção ao emprego formal e o auxílio emergencial permitiram recuperar um ano que se projetava muito pior para o setor.


Números referentes a 195 empresas do ranking revelam crescimento nominal consolidado em 2020 de 12,6% sobre 2019, mais que o dobro da taxa de crescimento nominal de 6% do varejo brasileiro. O desempenho repete o padrão identificado em 2019, no qual as empresas do ranking cresceram 10% contra 5% do varejo. Para 77% das empresas desta base de 2020 houve crescimento nominal de vendas e em 73% delas acima da inflação.


Setorialmente, o varejo brasileiro teve desempenho positivo em supermercados, materiais de construção, farmácias, eletroeletrônicos, pet, móveis e produtos para a casa e queda em moda e categorias de consumo discricionário. A composição do Ranking reflete o impacto setorial da pandemia: enquanto o número de supermercados e farmácias teve aumento de 11 empresas, o de moda teve queda de 9 em relação à lista de 2019.


Expansão – as maiores empresas do varejo brasileiro vêm mantendo expansão consistente nos últimos anos e mesmo durante a pandemia houve avanço. Em amostra de 199 empresas do Ranking, houve aumento médio de 1,9% na base de lojas. Em 59% dessas empresas houve aumento de base de lojas no ano passado e apenas 17% delas tiveram redução no número de lojas. Apesar de desaceleração e postergação de abertura de lojas em alguns segmentos, outros se beneficiaram do aumento de demanda e da maior disponibilidade e redução de custos imobiliários.


Concentração e Regionalismo – os dados do Ranking revelam e confirmam a cada edição características estruturais do varejo brasileiro. O mercado brasileiro é complexo e apresenta elevados graus de concentração demográfica e geográfica. A consequência disso para o varejo se dá no baixo nível de concentração e peso relevante do varejo regional. As 10 maiores empresas de varejo do Brasil detêm somente 18% do mercado, as 50 maiores 32% e as 100 maiores apenas 38%.


Em relação à dispersão regional, 43% das empresas só possuem operação em um estado e 63% em até 5 estados. Somente 13% das maiores empresas de varejo do Brasil operam nos 27 estados do País. Apesar de existirem diversas redes com presença nacional, o varejo brasileiro ainda é dominado por empresas de atuação regional.


Aceleração digital – o grande impacto estrutural e legado da pandemia será a aceleração digital do varejo, em todos os segmentos. A penetração digital no varejo brasileiro deve ter chegado a patamares entre 6,5% e 8,5% em 2020, mas isso esconde a grande mudança nas jornadas dos consumidores e na ampliação nos canais de venda, comunicação, relacionamento e engajamento por parte do varejo.


Os dados do Ranking mostram a evolução: o % de empresas que vendem online passou de 54% em 2019 para 70% em 2020; no segmento de supermercados, que era mundialmente o mais atrasado na transformação digital, o % de empresas do Ranking que vendem online passou de 28% para 53%, enquanto entre as de não alimentos o índice passou de 77% para 88%. Em amostra de 48 empresas, a penetração média das vendas online passou de 12% em 2019 para 21% em 2020, crescimento de 75%.


Marketplaces, plataformas e ecossistemas – no processo de aceleração digital, multiplicam-se os marketplaces, contrapondo grandes players generalistas como Mercado Livre, Americanas, Magazine Luiza, Amazon.com e Via a especialistas verticais como C&A, Arezzo, Dafiti, Cobasi, Petz, RD, Centauro e Mobly; e outros players como Rappi, iFood e Inter. O movimento busca a evolução para ecossistemas de negócio, a exemplo do que ocorreu na China com Alibaba, Tencent, JD.com e Suning. Empresas com marketplaces foram responsáveis por 84% das vendas online no Brasil em 2020 e têm se apropriado de participação crescente no varejo digital.


Das empresas do Ranking, 27 operam marketplaces proprietários (marketplace in) e 99 operam em marketplaces próprios ou de terceiros (marketplace in e marketplace out). Empresas de varejo que não tiverem capacidade de desenvolver um markeplace, terão que aprender a se relacionar com eles.


Os dados do Ranking mostram a diversidade no desempenho setorial do varejo brasileiro, mas também evidenciam que empresas maiores, mais estruturadas, com acesso a capital, maturidade digital e capacidade de adaptação deverão sair da pandemia fortalecidas e com ganhos de participação de mercado, levando a uma maior concentração, ainda que longe de cenários de consolidação. O estudo evidencia aspectos importantes do varejo brasileiro, como o baixo grau de concentração média, o peso do varejo regional, a relevância do franchising, a aceleração digital e aumento de relevância dos marketplaces.


Alberto Serrentino – fundador da Varese Retail, conselheiro e vice-presidente da SBVC. Consultor, palestrante internacional, autor e conselheiro de empresas.


Fonte: LinkedIn

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