Numa gelada Nova Iorque - com temperaturas abaixo dos dez graus negativos - superando todas as incertezas, começa a 112ª NRF Big Show. A edição de 2022 é especial e diferente. Mudou o “mood” da cidade, que está muito mais vazia do que costumamos ver todo janeiro, mudou o Javits Center (o Centro de convenção de NY) que teve sua reforma no North Hall concluída (está ainda maior), muda o público (tem muita gente, mas possivelmente metade de 2020). E é especial, porque marca a retomada dos eventos presenciais de grande porte e reforça a expectativa de que o varejo acompanhe e também retome seu ritmo pós pandemia.
Mike George, o Chairmann da NRF, abriu os trabalhos hoje e trouxe números para dar inveja aos brasileiros e deixou claro que essa retomada já é realidade por aqui. Eles tiveram 20 meses seguidos de crescimento e abertura recorde de lojas (2021 atingiu a marca de 1 milhão de lojas operando). Esses dados justificam o tema do Congresso de ano que é Accelerate. Chegou o momento do varejo americano aumentar o ritmo, já que parece ter encontrado o caminho.
Dia com muitas palestras interessantes e novamente os brasileiros dominando os
corredores.
Três temas me
chamaram particular atenção.
ESG - o papel social e ambiental do varejo tem sido MUITO abordado aqui.
Não por acaso esse ano há o “ Lounge das Igualdade” no evento, onde
diversidade, igualdade e inclusão são os temas centrais. Seja na composição dos
time, seja no desenvolvimento de produtos e marketing, não dá mais para
imaginar um grande varejista que não considere uma postura inclusiva. Sendo o
setor que mais emprega (seja no Brasil, seja nos EUA) o varejo tem um enorme
potencial de transformação social. Não ficaram de fora do evento as discussões
sobre sustentabilidade, com destaque para o painel onde o Diretor de
Sustentabilidade do Walmart - Zach Freeze, debateu com Saskia Gendt da Rothy´s
(uma empresa de calçados muito bacana, que tem como diferencial buscar ser
“lixo zero”) as ações que estão desenvolvendo e seus desafios. Segundo eles,
toda iniciativa, todo produto, toda campanha, deve considerar a pegada
ambiental e ir além do dos seus muros, com monitoramento de fornecedores e toda
a cadeia. O VP de Sustentabilidade da NRF também participou da apresentação
(Scot Case) e ele bem pontuou que a pegada sustentável (social, ambiental) de
uma empresa vai passar a ser cada vez mais fator de escolha dos consumidores e
eles saberão quando isso faz parte do DNA da companhia ou é apenas discurso
marketeiro. Nos keynotes da manhã, executivos da SAKs, Vitamin Shope e Yum
Brands destacaram que a inclusão também é um fator de redução de turn over e retenção
de colaboradores, sem dúvida um grande desafio no Brasil.
Futuro do Omni e do Ecommerce – o varejo figital, a integração dos canais
e a venda online não deveriam ser, em 2022, um desafio para qualquer varejista.
Na NRF, temos a chance de olhar para o futuro e tentar prever como se
comportará nosso mercado brasileiro nos próximos anos. Na melhor palestra do
dia (na humilde opinião desse que escreve) a CEO da GDR Kate Ancketill trouxe
uma séria de dados e tendências, mostrando que para as gerações mais jovens
(Geração Z já é quase 40% da população mundial) o ecommerce não é algo
divertido e a omnicanalidade é algo óbvio e obrigatório. O caminho será sem
dúvida, um processo de compra cada vez menos linear, passando por redes
sociais, jogos, venda por streaming, sugestão de compra por inteligência
artificial, compras coletivas e outras formas de conexão mais “divertidas” e
interativas que o ecommerce tradicional. Nesse contexto, entram as vendas dos
produtos virtuais tokenizados (se você não sabe do que eu to falando, vai logo
dar uma pesquisada sobre venda de NFTs, porque isso vai ser cada vez mais
citado), o metaverso commerce e tudo que esse novo universo traz junto. Emma
Chiu da Wunderman também abordou o Metaverso no seu discurso, com 12 tendências
que vão desde a publicidade ao real state na nova plataforma. E o que parece
ficção ou muito futuro, já é realidade, com empresas como Nike, Puma, D&G e
muitas outras tendo milhões de receitas com NFTs. Essa reinvenção do ecommerce
também foi abordada de certa forma em duas palestras com participação do
gigante chinês Alibaba, numa contando sobre os desafios para vender no mercado
de luxo, fazendo uso de personalização e live shopping e na outra, com Alberto
Serrentino contanto um pouco sobre o TMall (antigo Taobao) que tem usado e
abusado de interação para aumentar suas vendas.
Logística – se o varejo online dobrou de tamanho (seja no Brasil que passa
de 10%, seja nos EUA que passa de 20%) e se o consumidor é cada vez mais
ansioso para receber seus produtos, a dinâmica de entrega passa a ser uma
enorme vantagem competitiva. Todo o Supply Chain foi comentado hoje, sobretudo
pelos impactos do fornecimento da China, mas o ponto que mais me fez refletir é
criar alternativas para fazer das entregas um fator de diferenciação e de
melhoria de experiência de compra digital - Stelleo Tolda do Mercado Livre e
Tony Shan falaram sobre isso num papo moderado por Alberto Serrentino. Brian
Cornell da Target comentou como ele usa suas 800 lojas como locais de entrega e
pontuou que o consumidor vai querer na dar cada vez menos e receber o produto
cada vez antes.
O dia terminou com dois Keynotes especiais e nomes de peso, num deles o CEO da
PepsiCo Steven Williams falou da preocupação com que todos fiquem o quanto
antes o mais saudável possível, pois essa é uma pré-condição para o negócio.
Contou também como estão mais focados do que nunca no propósito, para motivar
seus mais de 60.000 colaboradores a vencer esse momento desafiador. Na última
do dia, o Chairman e CEO da IBM Arvind Krishna discursou sobre como a gigante
está apoiando varejistas a melhorar a experiência de compra, coletar dados de
consumidores e acelerar a transformação digital.
Sem a pretensão de ser um resumo, esse report visa trazer insights e te
inspirar a fazer um varejo melhor e diferente. Deixa eu correr, que vamos
trocar ideia com o Grupo Brasil Varejo e ouvir o que não acompanhei.
Boas vendas
Daniel Zanco
Fonte: LinkedIn
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