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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

FUTURO DO GPA PODE PASSAR POR ACORDO GLOBAL ENTRE CARREFOUR E CASINO

O desenho que vem sendo pensado, ainda no campo da análise, envolve uma possível negociação da operação do Casino na França para o Carrefour global, e a saída de Abilio Diniz da sociedade no Carrefour, de maneira a se desvincular e estar livre para a compra do GPA.



Por Adriana Mattos


As possibilidades em torno do processo de venda dos negócios do grupo francês Casino são mais complexas e amplas, e passam por um acerto de várias “pontas” ao mesmo tempo, apurou o Valor. O desenho que vem sendo pensado, reservadamente entre as partes, ainda no campo da análise, envolve uma possível negociação da operação do Casino na França para o Carrefour global, e a saída de Abilio Diniz da sociedade no Carrefour, de maneira a se desvincular e estar livre para a compra do GPA. O que pode ocorrer com a entrada de fundos num pacote maior.


Apesar de ser um processo que dependeria de muitas etapas para avançar, parte do movimento pode ter começado, diz uma fonte.


Em junho, o Casino informou uma reorganização da operação na França para uma “simplificação” das sociedades. Segundo duas fontes, isso está dentro de uma estratégia de divisão dos ativos do Casino em quatro áreas principais, e negociá-las, ou buscar um outro rumo aos ativos em bolsas locais, separadamente. São elas: França, Brasil, Grupo Éxito e braço digital (Cnova). Oficialmente, o grupo francês disse em junho que todas as suas subsidiárias de distribuição de alimentos (inclui redes como Franprix e Monoprix) ficarão sob uma holding conjunta 100% detida pelo Casino Guichard-Perrachon.


Valor apurou que essa ideia de simplificação está dentro desse plano maior de destravar valor dos ativos no mundo e poder vendê-los, se necessário.


Isso pode ser o pontapé inicial para Jean-Charles Naouri, CEO do Casino, avançar num acordo de venda do braço da França ao Carrefour, a depender de um entendimento com Alexandre Bompard, o CEO do Carrefour, e fechar outro acordo com Abilio Diniz, envolvendo o GPA.

Abilio, Naouri e Bompard

Qualquer movimentação passa necessariamente por Bompard, que teria ganhado força maior no Carrefour nos últimos anos, dentro do conselho de administração e nas discussões estratégicas. Neste momento, não há uma negociação em andamento, mas houve uma aproximação entre Naouri e representantes do Carrefour no último um ano.


A pandemia acabou postergando maiores contatos, mas há uma “janela já aberta”, nas palavras de uma fonte a par do tema.


Por esse desenho, Bompard continuaria dando as cartas na França, com uma operação maior (a depender de um aval do governo francês para o negócio), que é o seu desejo. E de forma paralela, haveria a saída de Abilio do Carrefour global, num movimento que já estaria sendo pensado também por outras razões.


Abilio tinha a ambição de fazer mais mudanças no Carrefour e implementar outro ritmo, algo que até avançou desde a sua chegada, no fim de 2014, mas ainda esbarra numa estrutura de tomada de decisões lenta e visões diferentes sobre certos temas, apurou o Valor.


Segundo uma fonte, não estaria fora de hipótese Abilio deixar sua posição no Carrefour Brasil, caso um negócio de fusão da rede com o GPA levasse a alguma dificuldade frente ao Cade, órgão antitruste. Fora do Carrefour, ele retornaria ao GPA — para alguns, ainda é o sonho de Abilio a sua volta à empresa da família.


A dúvida de pessoas a par do assunto é até que ponto um acordo com Abilio envolveria o Assaí.


Valor apurou que Naouri até aceita negociar a França , mas quer manter Assaí hoje, porque vê potencial de Assaí ser muito maior do que é (maior até que GPA no passado), e poderia se desfazer do negócio num outro patamar de preço.


A questão também é se Abilio teria interesse, ou tamanho de cheque, para um pacote incluindo a posição de cerca de 40% do Casino no Assaí, o que colocaria a sua volta ao GPA em outro patamar.


No campo de negócios um pouco menores, mas que reforçam esse movimento com os ativos, o Casino já se desfez, há cerca de um mês, de sua posição na sua operação de energia GreenYellow, por 600 milhões de euros, e o Valor apurou que deve se desfazer do site do Monoprix, rede de moda da empresa, para os franceses do grupo Beaumanoir. As conversas estão em andamento.


O Casino ainda tem outras opções na mesa, envolvendo outras redes europeias, caso esse desenho com Carrefour não avance.

Dívidas e renegociações

Parte dessa movimentação tem, como pano de fundo, a liquidação das dívidas da Rallye na França, a holding do Casino. A empresa obteve, em 2018, uma proteção contra credores, espécie de recuperação judicial, e tem um plano de alienação de ativos até o fim de 2023.


Essa reestruturação de dívidas diz respeito à França e ainda resta pagar 1,2 bilhão de euros de um total de 4,5 bilhões de euros. Há meses o Casino vem pagando e se desfazendo de ações e ativos, numa relação que parece estar numa boa fase com bancos, bem melhor do que no começo desse processo.


Uma fonte afirma que os planos de Naouri não têm relação apenas com alavancagem na França. Ele já teria decidido dar outro rumo aos seus negócios e à sua fortuna, após um período turbulento de negociações com bancos e frente à investidores, e não tem um DNA de varejista, mas cabeça de financista.

Paciência e “timing”

Dentro desse plano, ainda entra o futuro de Éxito e Cnova. O mercado pode acreditar que esses são pontos centrais do plano do Casino, mas são um capítulo de um possível novo redesenho de forças do varejo no país.


No Éxito, o projeto em estudo, como já publicado pela imprensa internacional no ano passado, é a separação da empresa, que faz parte do GPA, para um re-IPO na bolsa colombiana, mas apenas quando a janela de mercado reabrir, portanto possivelmente entre 2023 e 2024. Esse “spin-off” pode ajudar a destravar valor da rede e elevar a sua liquidez, e, eventualmente, avançar para uma negociação do ativo, caso existam interessados.


Na Cnova, o Casino já disse que planeja aumentar a liquidez do papel, numa oferta de ações quando uma janela de mercado aparecer, e GPA tem 34% das ações da empresa, o que seria positivo para os acionistas do GPA e vem sendo aguardado pelos investidores.


O que é bom ficar claro ao mercado é o conjunto de condições necessárias para que todo esse jogo de xadrez, envolvendo decisões de Naouri, Bompard e Abilio, possa avançar.


Há anos, eventuais acordos envolvendo essas empresas não saíram do campo dos rumores por diversas razões. Há um detalhe hoje, que pode fazer diferença: os planos individuais de cada um dos três, e o ambiente mais favorável a eventuais acordos. “Abilio e Jean nunca estiveram tão bem desde a separação”, diz uma fonte, sobre o fim do acordo de sociedade em 2012.


De qualquer forma, quanto ao “timing” relativo aos planos dos ativos no Brasil, Colômbia e França, é bom os investidores terem alguma dose de paciência porque ainda há muitas peças soltas, e são diferentes empresas e empresários com suas próprias agendas, e é pouco provável que isso destrave completamente no curto prazo.


Fonte: Valor Econômico

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