O grupo CredFácil, rede de franquias especializada em empréstimos e financiamentos, lançou um linha de custeio para pagamento da taxa de franquia, uma das demandas mais frequentes
Por Roseli Lopes
Desde 2021, a Franquia Sollar Energy opera no ramo de soluções em energia fotovoltaica, oferecendo energia renovável — um dos setores da economia em franca expansão. Conta, hoje, com 36 franqueados no país, mas até o final deste ano pretende ampliar esse número em mais 52 unidades e adicionar outras 150 em 2023. Apesar de estar entre as franquias com valor médio de investimento inicial inferior a muitos outros negócios – a opção básica requer pouco mais de R$ 23 mil – a franqueadora sabe que nem todos que sonham em se tornar um franqueado têm disponível o valor integral para começar o negócio.
Para atingir seu objetivo de crescimento, portanto, a Sollar Energy criou alternativas para ajudar interessados a financiar os valores necessários para se tornar um franqueado da empresa. A franqueadora, que faz parte do grupo CredFácil, também uma rede de franquias, especializada em empréstimos e financiamentos, lançou, em setembro, um linha de custeio com prazo de pagamento em até 240 meses para pagar a taxa de franquia – valor desembolsado para usar a marca da franqueadora -, uma das demandas mais frequentes.
A exigência, nesse caso, é de que ele apresente uma garantia de um bem para o empréstimo, que pode ser imóvel ou veículo. O valor liberado também está condicionado a 80% do valor desse bem. Antes, o franqueado da Sollar podia financiar a taxa no cartão de crédito em até 12 vezes apenas.
Segundo Cleyton Gonçalves, CEO da Franquia Sollar Energy, hoje com quase 1.000 franqueados, o crédito pode ser tomado como pessoa física, mas pode ser usado na franquia. Os valores ainda podem ser usados no capital de giro e outras finalidades. “Optamos por esse modelo de alienação para que o franqueado consiga levantar recursos maiores ao aderir à rede”, diz o CEO.
A Sollar, na verdade, se junta a dezenas de outros franqueadores que passaram a oferecer ajuda financeira na forma de crédito aos franqueados, especialmente depois que bancos limitaram os empréstimos durante o período mais crítico da pandemia.
Em sua maioria, a disponibilidade de recursos dessas franquias é gerada nas parcerias que os franqueadores têm com bancos públicos e privados, incluindo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio do Cartão BNDES.
O cartão faz com que banco e franqueadores, mediante um contrato, atuem em conjunto para viabilizar crédito com o apoio de agentes financeiros credenciados. Ou seja, o franqueador se transforma em uma espécie de ponte entre os dois lados.
Fábio Marques, CEO da rede de restaurantes Detroit Steakhouse, de Goiânia (GO), lembra da dificuldade do setor de franquia durante 2020 e 2021 em obter crédito para capital de giro, depois que várias operações ligadas ao segmento ficaram indisponíveis nos bancos. A Detroit, cujas unidades são 100% franqueadas, dispõe de opções de financiamento também em parceria com instituições financeiras com foco no franqueado.
O fato de a operação contar com a intermediação do franqueador torna as condições de empréstimo para esse público mais favoráveis, com custos diferenciados, menores.
Uma forma indireta de financiamento adotada pela Detroit é a negociação com fornecedores para ampliar os prazos de pagamento. “Nós mesmos, durante a fase mais dura da pandemia, fizemos várias adaptações no nosso negócio, adotando descontos e parcelamentos para salvar os franqueados e que ficaram”, conta Marques.
Recentemente, a rede financiou, com seu caixa, alguns negócios. Em agosto de 2022, a Detroit optou por usar o capital próprio para bancar 60% do investimento de duas unidades novas de dois franqueados que buscavam expandir o negócio e escolheram a cidade de São Paulo..
As duas unidades deverão ser inauguradas entre os meses de novembro de dezembro nos shoppings Light, no centro da capital paulista, e no Shopping Morumbi, zona sul da cidade, e representarão a entrada da rede goiana no mercado paulistano. “São dois clientes que já estão conosco há algum tempo e que queriam crescer, mas não tinham todo o capital necessário para novas unidades. Ao mesmo tempo esse anseio deles veio de encontro à nossa vontade de entrar em São Paulo. Decidimos, assim, por ajudar a acelerar esse processo que beneficiará os dois lados”, explica o dono da rede Detroit.
Mesmo sendo um crédito pontual, diz Marques, esse tipo de ajuda que levará a marca para os paulistanos é algo que a rede já pensava em adotar há algum tempo entre seus franqueados, em especial àqueles mais antigos na parceria com a Detroit, que queiram expandir o negócio para outras regiões.
A decisão extraordinária de financiar a entrada da marca em São Paulo pode ter sido, no entanto, o pontapé inicial para oportunidades a mais franqueadores. “Temos interesse em fomentar nossas franquias e poderemos, no futuro, oferecer também essa perspectiva a franqueados mais recentes, sempre, claro, com análise caso a caso”, diz.
O financiamento feito por franqueadores de parte do valor que o franqueado precisa para iniciar seu próprio negócio, ou para crescer, não é recente, mas ganhou força nos últimos cinco anos, segundo Leonardo Marchi, sócio da Praxis, consultoria com foco no setor de franchising. Inicialmente usada de maneira informal, a prática acabou virando quase uma regra no segmento.
“Há várias marcas de franquia que adotaram essa postura de participar financeiramente do processo de abertura de uma unidade por um novo franqueado, seja por meio de parcerias com bancos como uma ponte ao franqueado, seja com recursos próprios, como forma de crescer o seu próprio negócio e a marca. As oportunidades e exigências, no entanto, diz, variam de acordo com as redes e o tipo de franquia que se busca.
Na Rede Clube Turismo, agência de viagens da Paraíba, por exemplo, para o franqueado obter crédito é preciso que tenha pelo menos 70% do valor do investimento total na franquia. São três modelos de negócio com valores que variam de R$ 6.900 o menor até R$ 90 mil o mais elevado.
A empresa está no mercado há 19 anos, mas como franquia desde 2009. Apesar de a pandemia ter limitado as operações do setor de turismo devido ao isolamento social, as unidades da empresa cresceram na versão home office, segundo Ana Virginia Falcão, CEO da Rede Clube Turismo.
O custo menor para o franqueado também ajudou a alavancar esse modelo, já que não precisa de loja física. “O home office sempre registrou número maior de franqueados do que aqueles com um ponto comercial físico”, comenta. Hoje, são 431 franquias nesse formato. Para financiar seus franqueados a empresa tem parcerias com o Banco do Brasil (BB).
O banco atua como parceiro da Associação Brasileira de Franchising (ABF) para a oferta de linhas de financiamento especiais a todos seus associados, com taxas de juros diferenciadas, uma equipe de atendimento especializada e com descontos na cesta de benefícios, em tarifas de liquidação de cobrança e boletos além da folha de pagamento, segundo Carlos Motta, vice-presidente de negócios de varejo do Banco do Brasil. Hoje, diz Motta, a carteira soma 7 mil franqueados vinculados ao convênio BB Franquia, o programa voltado ao setor.
“O Banco do Brasil tem um olhar especial para o segmento e financia tudo o que é necessário para o funcionamento do negócio. Oferece a possibilidade de financiamento desde o empreendimento do franqueado, da compra da unidade, à taxa de franquia ou capital de giro e tem, hoje, mais de 260 parcerias com grandes franqueadores”, explica o executivo.
Nas linhas de capital de giro, por exemplo, o franqueado tem até seis meses de carência com prazo de pagamento de 48 meses. No financiamento da unidade o prazo cresce para 72 meses, com carência de até 12 meses.
Desde março de 2022, no entanto, todos os franqueados passaram a poder usar o BB Franquia sem a necessidade de terem qualquer convênio com franqueadores, diz. De janeiro a agosto deste ano, o programa liberou quase R$ 500 milhões, crescimento de 45% em relação a igual período de 2021. Segundo o executivo, considerados a expansão do setor e o apetite dos franqueados por recursos, esse crescimento deverá ser ainda maior nos próximos meses.
Outro banco de olho no setor é o Bradesco. “Tivemos uma pandemia que afetou o setor, mas a recuperação tem sido forte graças, em parte, a linhas específicas que franquias e em especial franqueados vêm conseguindo em bancos”, conta Renato Pizzo, superintendente-executivo de Nichos e Franquias do banco. “Nossa carteira de crédito cresce a uma média de 12% a 15% ao ano, sendo que, apenas no primeiro semestre de 2022, o aumento foi de 25%”, diz.
O franqueado pode financiar até 50% do valor total do investimento na unidade, com prazo de até 48 meses e carência de até seis meses para o pagamento da primeira parcela. Tem ainda crédito para o desenvolvimento e a ampliação do negócio, que inclui produtos, serviços e capacitação profissional, entre outros. O custo da linha de capital de giro e também para aquisição da unidade é de 1,61% ao mês. O Bradesco também tem parceria com a ABF.
Já a Caixa firmou parceria com a ABF para oferta de crédito aos associados em junho de 2022, mês em que também inaugurou um espaço exclusivo para o setor de franquias, batizado de Espaço CAIXA Mais Franquias. Ali o setor encontra soluções financeiras para abertura ou modernização ou ampliação de unidades. Para o franqueado o banco financia até 60% do investimento em uma unidade, já inclusa a taxa de franquia, com prazo máximo de pagamento de 60 meses e seis de carência. O custo da linha é de 1,29% ao mês, mais a Taxa Referencial (TR). Há, ainda a BCD Franquias, voltada à compra de máquinas e equipamentos.
Com quase 880 franqueados, a CredFácil, no mercado desde 2004 como correspondente bancário e como franquia desde 2009, liberou, no primeiro semestre de 2022, R$ 6 milhões em crédito ao setor. Em todo o ano passado, foram R$ 9 milhões. “Devemos fechar o ano com R$ 12 milhões em recursos destinados aos franqueados”, diz André Oliveira, fundador e CEO da CredFácil. Em 2021, a rede, cujo foco está nas classes C e D de consumidores, faturou R$ 170 milhões e estima encerrar 2022 com R$ 200 milhões.
Mas a franquia que tem no seu negócio o crédito também ajuda no financiamento de seus próprios franqueados. Hoje, 60% dos que trabalham com a marca CredFácil utilizam a linha de crédito do franqueador. “Identificamos que muitas pessoas têm talento para empreender e querem ter seu próprio negócio, mas esbarram na disponibilidade do capital próprio. Por isso parcelamos o valor do investimento em até 240 meses para que o futuro franqueado ganhe fôlego”, diz Oliveira.
A CredFácil oferece financiamento da taxa de franquia e do capital de giro ao custo de 0,95% ao mês. O empréstimo está vinculado à apresentação pelo franqueado de uma garantia de imóvel ou veículo, a exemplo de outras redes. O total máximo liberado é de 50% do valor do bem oferecido. Como o empréstimo é feito em parceria com bancos, a aprovação também passa pela instituição financeira, diz o fundador da marca, que ainda oferece opção de parcelamento no cartão de crédito, em até 12 vezes.
Na mesma linha, a paranaense CotaFácil criou o plano de financiamento CGI, ou Capital de Giro Imobiliário e de Veículo, com o qual o futuro franqueado pode parcelar o valor do investimento com alienação de imóvel e veículo e parcelamento em até 240 meses. A rede já liberou até o momento R$ 300 mil nesse modelo de crédito.
“Escolhemos esse modelo porque nem sempre o franqueado tem todo o dinheiro para o investimento”, conta Ismael Dias, CEO da CotaFácil. O recurso liberado corresponde a 80% do valor do bem. Com 153 unidades franqueadas no país em 2022, a meta, segundo Dias é encerrar o ano com 250 unidades franqueadas, entre dois modelos: home office e loja física.
Fonte: Valor Econômico
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