Em um labirinto de ambientes, criado dentro de três casas no bairro de Pinheiros, em São Paulo, a Cartel 011 reúne escritório, restaurante, loja com variado mix de produtos, jardim, galeria, salão de beleza e showroom
Cadeiras, roupas selecionadas de grifes famosas e de novos estilistas que surgem no mercado da moda, prancha de surf, linhas exclusivas de tênis da Lacoste e de Jeremy Scott, conceituado designer de moda americano, câmaras analógicas Lomo, acessórios e muitos outros itens. É com esse amplo leque de produtos que a Cartel 011 Edition Store trabalha. Sem vitrine, a ideia é que as pessoas adentrem ao local, no bairro de Pinheiros, em São Paulo (SP) e descubram por si o que há de interessante – não importa se for a escova de dentes de R$ 14 ou a peça mais cara por lá ofertada, uma bicicleta de madeira de R$ 8,5 mil.
É possível se perder no lugar que abriga comércio, restaurante, co-working (espaço divido por profissionais de diferentes áreas para trabalhar), galeria de arte, salão de beleza, jardim e o que mais for achado nesse labirinto de ambientes, escadas e coisas.
O design também é inusitado. Resende quis preservar detalhes dos sobrados portugueses em Pinheiros. Uma parede descascada mostra a pintura original da casa, por exemplo. O piso de parte da loja é de azulejo e traz lembranças da antiga cozinha. A cena representa muito bem o desenvolvimento da economia criativa na cidade de São Paulo. “No Brasil as nossas linhas são curvas, pois sabemos criar esses caminhos diferentes. Todas as peças ofertadas aqui são selecionadas. O conceito é o de ser uma coisa editada”, explica Resende.
Uma pesquisa encomendada pela prefeitura de São Paulo aponta que a economia criativa – gerada por empresas como a Cartel 011, que trabalham com moda, criatividade, culinária, entre outros – já movimenta quase 10% do PIB da cidade, o equivalente a R$ 40 bilhões ao ano.
A Cartel 011 foi criada em março de 2009 por Resende, Fernando Sappupo e Daniel Ueda. Na época, eles trabalhavam em casa fazendo consultoria. Não aguentavam mais ficar sentados de camisão em frente ao computador. As interações com outras pessoas eram limitadas, sem a troca de informações que o fator presencial permite.
Após alugar uma antiga casa em Pinheiros e colocar duas mesas somando quatro lugares, eles começaram a trabalhar em um ambiente co-working, expressão que na época nem existia no Brasil, mas que começava a aparecer em diversos lugares do mundo. Trata-se de um espaço onde diversos profissionais autônomos ou de pequenas empresas atuam, com a meta de trocar experiências e toda a infraestrutura que uma empresa possui. “Colocamos mesas, internet, serviços de copeira, segurança”, conta Resende.
Hoje, a ideia da Cartel 011 é disponibilizar espaço para profissionais liberais voltados para áreas criativas – arquitetos, engenheiros de produção, designers, entre outros. O sucesso desse modelo é tanto que existem empresas na fila para entrar. Lá cada mesa – o espaço possui mais de 15 - ou meia mesa são alugadas para uma empresa. “Foi uma situação que viabilizou um negócio, pois foi criado por necessidade. Hoje se tivéssemos o dobro de espaço, ele estaria lotado”, acredita Resende.
A segunda etapa da empresa começou em junho de 2009, com a inauguração da galeria de arte, com programação cultural própria e eventos de marcas parceiras. Durante um ano e meio realizando eventos e diversas exposições de arte, foi criado um seleto público formado por personalidades e formadores de opinião frequentadores do espaço. “A nossa grande sacada foi criar público e depois convertê-lo em consumidor”, aponta Cristian.
Com o passar do tempo surgiram novas unidades de negócios lá dentro mesmo e o processo de expansão foi iniciado. Desde a criação, a empresa multiplicou por cinco o espaço físico. “O nosso principal meio de divulgação é o boca a boca. Geralmente quando alguém nos visita, diz que conheceu uma loja incrível em Pinheiros ou que foi a um lugar diferente onde tinha tudo”, complementa.
Turbilhão de criatividade
Em cada um dos negócios dentro da Cartel 011 ou das “unidades’, assim como são chamados, existe um sócio que administra e entra com a expertise e um algo mais. Um exemplo é o salão de beleza de Paulo Daidone, cabeleireiro renomado. Ele atende, em média, a cem pessoas por mês dos mais diferentes perfis – desde a senhora refinada dos Jardins até os formadores de opinião, os designers, entre outros. “Estou aqui, pois prezo o conceito exclusivo, reservado. Acho interessante oferecer aos meus clientes, além dos serviços do salão, um bom restaurante e uma loja legal”, relata.
O restaurante de comida contemporânea foi inaugurado no final do ano passado, com sócios como Adriana Cymes, dona do bufê Arroz de Festa, e seu marido Victor Vasconcellos, chefe do restaurante Número.
As próximas fases e unidades são uma incógnita até mesmo para Resende. Ele leva a sério o discurso de Steve Jobs de que “as coisas só fazem sentido em retrocesso”. “Quando criamos a Cartel e a ampliamos, fizemos por intuição, vontade, mas ninguém disse que daria certo. É preciso confiar. Não sou cartesiano. Sinto o cheiro e afino o olhar”, explica.
Texto publicado originalmente na edição 167 (março/2012) da revista Consumidor Moderno.
Fonte: Mundo do Marketing
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