Depois de forte queda com a pandemia, setor registra crescimento de 16,9% no primeiro semestre deste ano.
Por Marleine Cohen
Recuperação, crescimento sustentável, plena expansão: o otimismo é tônica recorrente no franchising de saúde, beleza e bem-estar. O segmento teve o melhor desempenho no primeiro semestre de 2022, com faturamento 16,9% maior, passando de R$ 18,18 bilhões no período anterior para R$ 21,26 bilhões, de acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Danyelle Van Straten, diretora da comissão que representa o segmento junto à entidade, fala em “efeito batom”, reação que se verifica no pós-crise, quando as pessoas buscam no cuidado de si a autoestima e consequente energia necessária para recomeçar.
Seja porque a pandemia potencializou a atenção com a saúde, seja porque formou uma demanda reprimida por serviços estéticos ou associados à qualidade de vida durante os dois anos de maior incidência da covid-19, o fato é que o setor figura entre as três primeiras colocações em todos os cenários avaliados pela ABF: no segundo trimestre deste ano, ele registrou a terceira maior variação positiva na receita (20,1%), atrás de alimentação (22,3%) e hotelaria e turismo (25,4%).
No acumulado de 12 meses, ainda segundo a Pesquisa Trimestral de Desempenho ABF-2022, o segmento obteve o segundo maior faturamento, passando de R$ 37,91 bilhões para R$ 42,05 bilhões (mais 10,9%), atrás de hotelaria e turismo (22,4%). O número de unidades cresceu, 8%, saltando de 28.133 operações no segundo trimestre de 2021 para 30.273 em igual período de 2022.
Laudelino Risso, sócio fundador da Doutor Hérnia, uma franquia que presta serviços não-invasivos de reabilitação da coluna vertebral, só tem a festejar os resultados alcançados no período: faturamento de R$ 46 milhões em 2021, crescimento de 30%; 289 mil atendimentos realizados até o momento na rede, com 95 unidades instaladas e perspectiva de fechar o ano com 110.
Com cerca de 45 mil pacientes, a Doutor Hérnia avalia ter uma grande demanda por absorver. Em plena vigência do distanciamento social, com muitos trabalhadores em home office, com problemas de ergonomia e sedentarismo, a rede mais que dobrou o seu número de operações, passando de 24 em 2020 para 55 um ano depois. Hoje, continua atendendo clientes com queixas associadas à pandemia. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 14,4% da população mundial tem alguma patologia de hérnia de disco; 87% sentem dores nas costas.
Para usufruir dessa procura aquecida tanto por parte do cliente final quanto do investidor em busca de bons negócios na área de saúde – área que ganhou projeção mundial nos últimos tempos -, Risso mantém um olho na internacionalização da marca e outro na manutenção dos resultados qualitativos de reabilitação: “Desenvolvemos um modelo enxuto, que se apoia em índices satisfatórios de recapacitação dos nossos pacientes”, diz. “De cada cem pessoas, 96 são curadas sem intervenção cirúrgica, apenas com ajuste mecânico, tratamento do disco e fortalecimento muscular, entre 11 tipos de serviços oferecidos.”
Para manter a régua, a franquia estabeleceu como condição para integrar a rede a realização de um curso de capacitação de quatro dias tanto para o fisioterapeuta como para o gestor e o pessoal de atendimento ao cliente. O investimento é de R$ 120 mil.
Em troca, Risso aposta que vai atingir a sua meta até 2026: tornar-se a marca referência nacional em matéria de tratamento de hérnia de disco. “O interesse de mercados como o Canadá e a África do Sul, entre outros, conduzirá à internacionalização da franquia e isso só comprova que em matéria de reabilitação, o Brasil está uma raia à frente dos demais países, não um braço”, garante.
Outra rede que cresceu enquanto o Brasil esteve enfrentando a pandemia é a Home Angels, do grupo Zaiom. Entre 2020 e 2021, “o número de contratos aumentou 35%”, segundo o sócio diretor Artur Hipólito, “e 20 novas unidades foram negociadas neste ano, totalizando 120 operações”.
O crescimento “cada vez mais sustentável” da rede, nas palavras dele, se explica pela própria atividade desenvolvida: “Nós trabalhamos com cuidadores. Oferecemos serviços de assistência física e emocional a um público classe A, formado não só de idosos, mas de gestantes de múltiplos, crianças com limitações e dependentes químicos”, entre outros. Essas pessoas não deixaram de precisar de atendimento durante o distanciamento social. Ao contrário, passaram a ter ainda mais necessidade dele”, justifica Hipólito.
Para aproveitar o bom momento, a rede lançou mão de várias ferramentas de marketing digital, com programas de parceria com hospitais, clínicas e médicos geriatras, além de incentivar seus franqueados a desenvolverem um trabalho de divulgação local, seja na cidade ou no próprio bairro onde atuam. Uma adesão ao programa de recompensas da Livelo garante benefícios ao cliente final, que também pode contar com orientação médica ininterrupta pelo 0800, além de atendimento pré-hospitalar nas principais cidades brasileiras, com remoção por ambulância, e a possibilidade de passar por teleconsulta com os parceiros da Home Angels.
A essas iniciativas, pensadas e implantadas durante a crise sanitária, soma-se um serviço de orientação on-line para o próprio cuidador, toda vez que ele tiver dúvidas quanto à forma de proceder em determinadas situações.
Para tirar mais proveito da digitalização, a Home Angels implantou um sistema de gestão, com uma central de dados referentes às ações de marketing definidas, cujo grande diferencial, segundo Hipólito, é reduzir os custos do franqueado.
Este precisa desembolsar entre R$ 45 mil e R$ 89 mil para adquirir uma unidade e prever quatro cuidadores por pessoa assistida, sendo que uma franquia trabalha, em média, com dez assistidos. Por lei, o prestador de serviços deve ser um técnico ou auxiliar de enfermagem, ou ter diploma de cuidador profissional. Em troca, diz Hipólito, o retorno do investimento acontece em cerca de 18 meses e o faturamento mensal gira em torno de R$ 110 mil.
Menos favorecida pela crise sanitária que se instalou no país entre 2020 e 2021, a Pello Menos, rede de 43 unidades de depilação feminina a cera, enfrentou graves dificuldades no período: “Ficamos três meses seguidos fechados e recuamos 70%”, explica a empresária Regina Jordão, para quem “o momento atual é de retomada gradual, com uma primeira fase de pesquisa das opções de mercado por parte dos investidores e boas perspectivas de fechar negócios em 2023”. Apenas este ano, três novas unidades foram abertas, duas no Rio de Janeiro (Icaraí e Jacarepaguá) e outra em São Paulo (Jundiaí).
Para começar a atuar, a partir de 1996, em um nicho pouco explorado até então – o mercado de serviços estéticos de depilação -, Jordão conta que resgatou uma receita milenar dos antigos egípcios, a fórmula da cera quente. Aperfeiçoou-a com a ajuda de uma química para lhe dar uma elasticidade tal que não causasse dor, e, em pouco mais de duas décadas, montou uma rede de franquias voltadas para as classes B, C e D, que funcionam nos modelos de loja de rua e shopping, em dois Estados: Rio de Janeiro e São Paulo e em Brasília. Atualmente, são cerca de 400 mil clientes atendidos ao ano, 60 mil atendimentos por mês e um ticket médio de R$ 70.
Para alavancar a expansão que se anuncia a partir de agora, a empresária investiu R$ 50 mil no desenvolvimento de um e-commerce próprio, que funciona como um multicanal de vendas integrado ao sistema operacional das lojas físicas. “Trata-se da Loja Pello Menos, uma novidade que vai proporcionar uma experiência de compra diferenciada para as clientes, oferecendo-lhes mais comodidade, flexibilidade e melhores preços”, afirma. Entre as vantagens, citam-se o atendimento sem hora marcada, o plano de assinatura de depilação a cera que dá direito a 40% de desconto, um canal 0800 para esclarecer dúvidas das clientes, e mais promoções e campanhas. Com essa nova estratégia, Jordão espera um crescimento de 35% no faturamento de 2022.
Atuando também na área de depilação, mas a laser, a Espaçolaser opera igualmente em modo otimista neste ano, um período que o empresário Paulo Morais, um dos três fundadores, define como sendo “de recuperação”: “Estamos muito confiantes na nossa rede de franchising e prestes a retomar os patamares de 2019”, adianta.
Fundada em 2004, a marca fechou o primeiro semestre deste ano com 756 unidades, próprias e franqueadas, distribuídas por todo o Brasil. Além disso, ela está presente em alguns países da América Latina, como Argentina (14 lojas), Chile (18), Colômbia (8) e Paraguai (uma unidade).
Em 2019, às vésperas da crise sanitária, ela iniciou uma operação de larga escala para canalizar o crescimento registrado no período, quando alcançou R$ 1 bilhão em vendas: inaugurou sua Universidade do Laser, corporativa, para oferecer treinamento a mais de três mil colaboradores e manter uma cultura de excelência em toda a rede e investiu em digitalização como estratégia de expansão, partindo para a omnicanalidade. Todos os pedidos foram direcionados para canais como o e-commerce, o chat, o email e o aplicativo, desativando aqueles off-line, mais onerosos, como o call center, graças ao novo sistema interno próprio, apelidado de Todoo. A título de comparação, no primeiro trimestre de 2020, as vendas digitais representaram 10,1% do total; um ano depois, elas responderam por 36,8% da receita nos três primeiros meses do período.
Além de permitir maior engajamento do cliente, a ferramenta mostrou durante a pandemia ser útil para uma comunicação direta com o mercado consumidor: “Ao saber quem comprou uma depilação de axilas, por exemplo, conseguimos posteriormente sugerir o mesmo serviço na virilha”, afirma Morais, lembrando que o corpo feminino tem 30 áreas de depilação, enquanto o do homem, que representa 10% da clientela da marca, tem 28.
Outra iniciativa que deve, segundo empresário, acelerar o crescimento da marca é a conquista de novas praças em todo o país, uma estratégia que deve ser perseguida a partir de agora, graças à retomada da atividade econômica. Até o momento, a Espaçolaser, que também conta com a participação acionária de Xuxa Meneghel, soma mais de 3 milhões de clientes atendidos e 36 milhões de procedimentos realizados por “fisioterapeutas especializados em técnicas sustentáveis, com baixíssimo impacto ambiental”. O valor da unidade franqueada é de R$ 841 mil e o tempo estimado para o retorno é de 28 a 32 meses.
Outra franquia que encontrou fôlego no pós-pandemia é a Orthopride, que presta serviços de odontologia estética, oferecendo aparelhos ortodônticos que corrigem a dentição, alinham a mordida e protegem os dentes.
Com 192 unidades em funcionamento no país e previsão de abrir até 20 novos pontos em 2022, a marca está lançando um novo modelo de loja, o Studio Orthopride, com metragem entre 42 e 50 metros quadrados e valor total do investimento na casa dos R$ 350 mil. Para os próximos 12 meses, a previsão é de a rede inaugurar mais 50 unidades.
“Vamos continuar investindo em inovação, equipamentos de ponta e treinamento”, adianta o COO da Orthopride, Richard Magrath. “Além do modelo tradicional de franquias, que seguiremos implantando principalmente nas regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste, estamos agora com um formato mais enxuto, voltado para bairros com perfil de clientes premium, caso da Zona Sul do Rio de Janeiro, ou, em São Paulo, o Itaim Bibi e Moema.”
Richard Magrath explica que um dos fatores que motivou a guinada da rede odontológica para o atendimento às classes mais altas é o cenário econômico: “Essa fatia do mercado está mudando seus hábitos de consumo e passou a premium enxergar as franquias como uma opção efetiva e segura de prestação de serviços de qualidade”, avalia.
Para adquirir uma unidade franqueada, o investimento mínimo é de R$ 250 mil, com retorno previsto em 24 a 36 meses. Estimativa de faturamento mensal: R$ 250 mil.
Fonte: Valor Econômico
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