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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Marisa já mapeia quais lojas vai fechar


Por Mônica Scaramuzzo e Fernanda Guimarães

Nos últimos 15 dias, a rede de moda feminina Lojas Marisa anunciou diversas mudanças. Pressionada por dívidas que vencem no curto prazo, a varejista fará uma ampla reestruturação nos negócios. Com mais uma troca de comando, a quarta em menos de um ano, a família Goldfarb, controladora da varejista, escalou João Pinheiro Nogueira Batista para assumir a presidência do grupo para tentar, mais uma vez, reposicionar a rede.

Nesta quarta-feira, na primeira reunião presencial com a consultoria Galeazzi Associados, contratada no início do mês para cortar os custos da companhia, João Nogueira, como é mais conhecido no meio empresarial, quis mapear as lojas que dão prejuízo e quantas devem ser fechadas.

Segundo o executivo, a reestruturação passará invariavelmente pelo fechamento de lojas, visto que “não faz sentido uma empresa com alta margem ter prejuízo”. Um dos problemas já foi identificado: o custo operacional está alto demais. “Já teremos um diagnóstico para apresentar ao conselho em meados de março”, diz Nogueira.


Inicialmente, o executivo foi anunciado como presidente do conselho de administração, poucos dias depois da companhia, listada em bolsa, informar que tinha contratado especialistas para ajudar no processo, tendo como pano de fundo a crise da Americanas.

O primeiro encontro presencial com os Goldfarb foi no domingo, 12 de fevereiro, na sede da BR Partners na avenida Faria Lima, em São Paulo. O banco de investimento está debruçado sobre a renegociação das dívidas de curto prazo da rede, que registrou no terceiro trimestre dívida líquida de R$ 566 milhões, das quais cerca de R$ 200 milhões com vencimento neste ano.

“Não conhecia a família nem a empresa. Fui apresentado a eles por Ricardo Lacerda (presidente da BR Partners). No dia 13, saiu o fato relevante informando que eu seria o chairman. Cinco dias depois, assumi a presidência executiva”, conta Nogueira ao Valor na sede da varejista, no bairro paulistano da Barra Funda, em um antigo galpão industrial, comprado pela família há mais de 70 anos.

Na mesma semana em que Nogueira era anunciado como chairman, o diretor-financeiro Renê Santiago pediu demissão. Os controladores ficaram preocupados.

Nogueira não entende de moda e varejo. Foi diretor financeiro da Petrobras, presidente da empresa de energia Evoltz, da Suzano Petroquímica e da Swiss Re. Como conselheiro, preside o Porto de Vitória e faz parte do colegiado da Braskem.

A escolha de seu nome deve-se à experiência em reestruturação. Trabalhou na usina Cerradinho, na empresa do setor de energia Evoltz. E foi membro do conselho da Novonor (ex-Odebrecht) em 2019, quando a companhia pediu recuperação judicial.

“Comecei a me inteirar sobre [a Marisa] nas últimas semanas e já temos alguns caminhos”, diz. Com 344 lojas, segundo dados do terceiro trimestre de 2022, Nogueira aguarda o diagnóstico da Galeazzi para decidir quantas lojas serão fechadas.

A equação para resolver a pressão de curto prazo não é fácil. Uma forma já identificada de levantar capital é vender créditos fiscais referentes a uma liminar favorável à rede sobre recolhimento de PIS/Cofins. Ao todo, segundo Nogueira, o valor de face desses créditos é de R$ 550 milhões. Isso não significa que tudo será revertido à empresa, considerando o deságio na venda para fundos interessados em assumir esse risco.

MBank, o braço financeiro da Marisa, também cortou operações de empréstimo. “Financiar o cliente faz sentido [dar crédito para comprar na Marisa], mas oferecer empréstimo bancário não faz. Já fechamos a torneira”, conta.

Outra opção já na mesa é negociar o “balcão” da Marisa. Quando o consumidor vai pagar a conta no caixa, a Marisa oferece também seguros, consórcios e cartão de crédito. Em seguros, há um acordo com a Assurant que vence no início de 2025. Para cartão de crédito, havia um acordo com Itaú, mas o contrato foi encerrado há poucos dias. Nogueira vai abrir negociação para prorrogar com a Assurant ou com outra seguradora. Com isso, poderá antecipar cerca de R$ 150 milhões.

Ainda é cedo para saber se essas iniciativas vão ser concretizadas ou não. Com o banco Safra, Nogueira diz que acertou os recebíveis. As negociações seguem com outros bancos. “Com o caso das Americanas, os bancos ficaram preocupados e passaram a cobrar todo mundo”, diz, referindo-se à varejista que está em recuperação judicial com dívidas de R$ 42,5 bilhões.

Assim como a Americanas e muitas outras companhias, a Marisa tem operações de risco sacado – o fornecedor antecipa, junto a um banco, o recebimento de um pagamento devido pela Marisa. No balanço do terceiro trimestre, a Marisa reporta R$ 442,8 milhões na conta “fornecedores convênio” e R$ 42,1 milhões como dívida. “Ao contrário da Americanas, o risco sacado está devidamente contabilizado e bastante transparente no seu balanço”, diz Nogueira.

Não há, no momento, intenção de vender o negócio. Com o diagnóstico em mãos, a Marisa pode passar por uma capitalização. Segundo Nogueira, a família poderá fazer esse desembolso, mas será também analisada a entrada de um investidor externo, que aceite injetar dinheiro novo na varejista.

Para um aumento de capital, com entrada de recursos de terceiros, um dos entraves poderia ser a alta diluição no processo – a ação da Marisa sofreu forte desvalorização na B3. Hoje vale menos de R$ 1. “Faz sentido eventualmente ouvirmos propostas. Já recebi telefonemas, é uma marca poderosa”, diz. Uma forma de tentar evitar que os atuais acionistas tenham sua fatia muito reduzida seria propor uma entrada de recursos via dívida, com conversão de ações condicionada a um determinado valor no futuro. “A questão para nós é o tempo”, afirma.

Para o mercado financeiro também. Com os juros altos, os custos e o endividamento das empresas aumentaram. E os bancos seguem firmes e duros nas renegociações de dívidas.

Braço financeiro corta empréstimos e o ‘balcão’ da varejista para vender seguros vai ser negociado

Fonte: Valor Econômico

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